26 de dezembro de 2010

Escrever.

Minhas pernas fraquejaram outra vez e meus olhos cederam. Me entreguei à saudade e joguei pra longe meu sorriso. Fui sincera comigo mesma sem me importar pela primeira vez. Os outros não precisam entender. Nada disso tem a ver com mais alguém além de mim. A dor não amenizou e eu não reconquistei o brilho dos meus olhos. Não alcanço algo que me faça inteiramente bem. Escrevo..


(Estela Seccatto)

22 de dezembro de 2010

Perdão.

"A gente não consegue ser feliz se não tivermos um perdão pra pra dar". Depois de ouvir isso a gente pensa em tanta coisa.. Como seremos felizes se a cada erro que um outro fizer não soubermos perdoar? Como seremos felizes teimosos assim? Fechar a cara pra quem te fez mal ou não te deu valor vale de que? Serve pra ver os outros tristes? Se vingar vai amenizar sua dor e sua tristeza? Se alguém nos faz mal pensamos em pagar na mesma moeda ou entao cortar o contato, nos julgando justos. Mas com essas atitudes não passamos de crianças birrentas. Crianças que perdem amigos por causa de um brinquedo quebrado. Sabemos sim que existe, situações nas quais seríamos tolos por aceitar e deixar passar. Não relevaremos tudo. Não seremos ingênuos. Mas uma briga ou um desentenimento devem ser medidos devidamente. Temos que nos perguntar se vale a pena perder aquele amigos que tanto nos proporcionou momentos bons por causa de um erro que ele veio a causar. E é nessa hora que devemos ser sinceros com o nosso interior. Mas o perdão que guardamos no bolso, pronto para a entrega, deve vir apenas de nós? Ou devemos pedir perdão pelos nossos erros também? É tudo questão de companheirismo. Devemos perdoar sem ao menos esperar a pessoa se arrepender? São perguntas e mais perguntas e cada pessoa encontrar uma resposta diferente. Cada pessoa julga o nível do erro de acordo com suas medidas. Cada pessoa perdoa quem quer, o erro que quer e no tempo que lhe couber. Mas de que adianta um arrependimento de 3 dias e a prolongação do erro logo após, durante a vida? E então assistimos que o erro as fizeram felizes e somos obrigados a sorrir porque o coração perdoa mas não nos permite voltar. Egoístas ao ficarmos tristes com tal felicidade? Creio que não. São só dúvidas que giram em nossas cabeças. É só saudade incomodando e lembranças de um dia qualquer. É só a sensação de que não será mais igual pois um erro de alguém te explodiu a cabeça e talvez o coração. E nos vem aquele sentimento horrível de que amigos só estavam lá quando nada tinham a ver. Então, quando tiveram a chance de mostrar que estariam com você em qualquer situação, se fizeram neutros. Nós ficamos sozinhos e a alma ficou machucada. E a neutralidade se apagou quando a felicidade se fez presente do outro lado. Mas o que poderíamos esperar dos velhos amigos que igualam 3 anos à 1 semana? O que poderíamos fazer? Acompanharemos, então, essa felicidade que tanto nos faz tristes, apenas pelos anos de história. Vamos parabenizá-los pelas conquistas que se fizeram na sua ausência.

E vamos sentar, pedir um shot de alguma coisa e dar um trago no nosso último cigarro.. Esperando que algum dia eles sintam falta da nossa fumaça.



(Estela Seccatto)

16 de dezembro de 2010

Trem.

Pra que lado vai o trem, então? Qual é seu ponto final? Em qual caminho você se perdeu? Qual rumo nós seguimos? Que destino nos pertence se temos vários à escolher? O que é destino, amor? Porque te chamo de amor? Qual foi nosso fim? Isso realmente foi um fim ou daqui uns anos, talvez, estaremos todos nos abraçando no ano novo? Você ainda aceitaria um shot da minha garrafa de tequila? Amor, eu te dou um trago ainda. Você sabe que eu guardo meu rancor e deixo ele bem guardado nas palavras. Não te recusaria minhas ajudas ou seus vícios. Quem sou eu pra recusar um sorriso? Será que um dia vamos lembrar de tudo isso e rir? Ou será que lembraremos e choraremos de saudade? Poderíamos lembrar e simplesmente xingar em mente uns aos outros. Mas seremos adultos e não faríamos isso, faríamos? Quem sabe se vamos perder o contato? Ninguém sabe. Já o perdemos uma vez ou duas, não é difícil recuperar. Mas, amor, talvez você passe por mim daqui uns anos e eu não te reconheça. Talvez eu te encontre na rua e grite seu nome. Quem sabe eu aborde um desconhecido qualquer, querendo saber pra que lado vai o trem, e o desconhecido seja você..


(Estela Seccatto)

12 de dezembro de 2010

Happy B-Day, grandma.

Eu sei que é tarde, mas é que eu pensei que poderia esquecer. Pensei que poderia ficar sem escrever, sem chorar, sem lembrar. Me lembro que por uns três anos você me falava a mesma idade. Eu pensava que você não envelhecia. Até porque você estava sempre igual, só mudava a cor do cabelo.. E ai de repente o envelhecimento se fez presente na doença e no fim. E de repente você não estava mais aqui pra soprar as velinhas. Quem iria cortar o bolo dia 10 de dezembro, então? Eu acordei diante de um aniversário em que não havia ninguém pra fazer o pedido. É aí que a gente percebe como vai ser o Natal, o Ano Novo e as outras comemorações que eu já não gostava de comemorar. Desculpa se eu não te deixo em paz em pensamento. Desculpa ainda chorar ao lembrar de você.. Mas a saudade só aumenta, entende? Seu abraço me faz falta e como eu vou superar se você não vai voltar? Mas é isso, parabéns pra você nessa data querida. Parabéns pra você em todas as outras datas. Parabéns por você ter sido quem foi pra mim e por me fazer feliz a cada segundo em que estava presente. Eu nunca vou deixar de te amar, gordinha.

(Estela Seccatto)

24 de novembro de 2010

I always knew.

Porque quando a gente sabe, a gente insiste pra descobrir? Quero dizer, eu sempre soube que, de uma forma ou de outra, você não voltaria. Eu sempre soube o quanto te machuquei. Isso rodou na minha cabeça todos os dias durante dois anos. Eu evitei qualquer 'plano' pra correr atrás de você e, nos dias em que eu corria, me arrependia. E se você tivesse atendido o celular? E se você ficasse mal de novo? Mas como eu saberia que você estava bem? Não era maldade dos seus pais. Eu sabia que, se você quisesse, você conseguiria vir falar comigo pra dizer que está viva. Eu tanto sabia que briguei com a pessoa que me falou 'calma, ela vai voltar'. Mas por mais que eu soubesse, eu não deixei o último fio de esperança se quebrar e então lá estava o blog No I Can't Dance esperando por você. E mesmo postando 'você nunca vai ler isso', eu sabia que você leria um dia. E esse dia chegou, eis aí toda minha dor exposta pra você. Não sou nenhuma vítima, mas você também não é. Só não entendo porque insiste em perguntar se te amei. Custa juntar os fatos? Eu tenho um blog que fala sobre você e sobre a falta que me fez. Eu esperei dois anos. Eu te procurei, eu fiz outras pessoas te procurarem.

Eu sabia que , quando eu te encontrasse você falaria 'me desculpe, eu não consigo'. A merda é que tudo isso estragou uma das amizades mais fodas que eu tinha. Estragou o trio mais engraçado e que mais me fazia feliz. A merda é que tudo se perdeu por amor quando, supostamente, o amor deveria ser um sentimento bonito. Eu tinha certeza que eu poderia esperar 2 anos, 3 ou 15.. A frase seria sempre a mesma:
I'm not coming back.



(Estela Seccatto)

21 de novembro de 2010

Dia trágico e feliz.

O lugar é o mesmo. O sentimento é triste.
As mesmas pessoas - distantes.
Meus olhos brilham. A angústia continua.
O moço insiste pro lápis riscar. E o lápis risca.
Não risca os olhos. Há um óculos.
A cabeça implora pra parar.
O corpo implora pra confirmar
mas não precisa confirmar.. A presença é certa.
A simpatia desconhecida distrai.
O desenho é feito e o moço?
Merece! Ele está de parabéns.
A presença fica incerta. Me recuso a procurar.
Mais de 4 horas ali. Já faço parte do lugar.

O sonho continua.
A geografia e a literatura se misturam.
A cabeça ainda dói e os olhos são invisíveis.
O brilho para e o sorriso permanece.
Que alegria é essa?
O ar pesa e o sol se vai. O vento alivia.
A fumaça quebra o vento.
Deixa o vento quebrar a fumaça, menina!
O assunto da direita interessa..
..E na esquerda não há ninguém.
Cinco minutos e estou nessa linha.
A música que não faz bem não importa,
daqui a pouco ela vai acabar.

Deixo o lugar ao qual pertenci.
O lugar que me pertenceu.
Deixo os desconhecidos com um sorriso e um 'obrigada'.
As pessoas - julgam.
Julgam ou analisam?
Os olhares acompanham a caneta e dizem "mas que pena!"
Que pena de mim?
Me encontro num novo lugar não tão novo assim.
Mais uma hora pra encontrar rostos conhecidos
(se a coincidência não me cruzar antes disso).
Mas o rosto vai me confortar.

Não há mais um óculos.
Quem não via não vai ver mais.
Quem passa aqui terá no máximo três minutos.
Três minutos dos olhos meus.
Três minutos da angústia minha.
Angústia de três semanas.
Mas vai passar porque está passando.
Um corpo em movimento tende a continuar em movimento.
Mas e o sentimento, tende à que?
A poesia desconhecida do outro moço é bonita.
O grupo que se junta com um propósito é bonito.
O grupo que vem à mim pede opinião.
Minha opinião traz sorrisos e, talvez, quem sabe..
..Uma boa nota na escola.

A música acabou faz dez minutos
e no momento eu poderia dançar.
Ah, como poderia! E quem iria me impedir?
Mas eu não consigo, como a música diz,
dançar menos devagar ou triste.
O ritmo de dentro se reflete fora.
O olho - dói.
A dor - corrói.
Nem o pingo do 'i' eu coloquei direito. Mas que tragédia!
Quem disse, irmão, que tragédia era as pessoas distantes?
As novidades são vistas de longe.
A criança te olha e te marca.
Parecia que dizia: "tire os óculos, está assustando"
Mas não sabia dizer.

Porque me olham se estão cansadas e distraídas?
A moça pede informação e eu esqueço o que era rotina.
(O cachorro era o mesmo e acho que chama Simão).
Dou uma parte da informação:
"é linha azul, mas esqueci a direção".
Esqueci o sentido porque não faz sentido!
Essa geografia não me faz sentido!
Eu nasci pra somar e subtrair. Eu quero equacionar!
E a ficha acaba e eu preciso de outra..
E eu tenho outra.

E se tratando de acontecimentos raros
dessa vez eu tenho o que eu preciso.
E a música diz que ontem foi um inferno
mas que hoje eu estou bem sem você.
E porque a playlist está tão agressiva? Porque machuca?
Eu sou só uma estranha qualquer.
Porque te choca alguém que sai sozinho por aí?
Se nem eu me incomodei.. É. Nem eu me incomodei!
Mas não vou gritar pro mundo que o clima em casa não agrada.
Não vou contar que sou consequência dos pecados da minha mãe.
É segredo.
Era segredo.

A tinta preta faz o tempo passar.
O lápis riscando fez o tempo passar.
O cigarro e as pessoas que quiseram cigarro fizeram o tempo passar.
Mas porque elas não quiseram outro cigarro?
O dia vai embora mas a claridade eu não sei.
Deve ter ido também pelo horário.
Esse lugar novo já me pertence e é fechado.
Mas venta por aqui e aqui não tem fumaça.
Aqui não pode fumaça - a lei diz.
Quando é que vou ser dona desse lugar?
Quando é que vou ser dona do mundo, hein?
Eu ia cuidar bem, qual é a oferta do dia?
"Cinco reais, três, dez.. O quanto você puder dar".
Seis reais e vinte e cinco centavos, moço.

Eu quero registrar esse momento!
Eu quero o papel que o lápis riscou.
Eu quero a poesia do outro moço também.
Eu quero parar com a geografia e com a literatura
que a minha cabeça mandou parar. E eu parei!
De novo outro acontecimento raro.
Eu posso fazer o que eu quero ao menos uma vez!
Mas porque tem um sorriso no chão e porque eu pisei nele?
Falta metade do tempo pro rosto conhecido me confortar.
Eu quero ver as estrelas, mas nem se aqui fosse aberto..
..A nuvem não deixaria.

Hoje eu não coloco mais o óculos.
Nem nunca mais - pelo menos não esse óculos (não é meu).
A angústia foi pro papel.
O brilho voltou, mas agora não vou sorrir.
O que pensariam? Que sou feliz? Jamais!
Pensariam que a loucura tomou conta de mim, me invadiu.
Mas isso sim é uma outra tragédia a se discutir.
Que dia trágico!

O moço enrolou o papel pra não amassar.
O tênis tá sujo mas eu gosto assim.
Hoje, às nove horas da noite, ninguém vai olhar meu tênis.
Nem amanhã à uma hora da tarde
e nem outro dia e nem outra hora.
Hoje, às nove horas da noite as pessoas vão sorrir
porque a peça de teatro vai começar.
Mas ainda são sete horas e trinta e cinco minutos.
Mas quanta tragédia junta, meu Deus!

Porque aquela placa diz 'saída'?
Eu não quero sair, eu quero entrar na rua.
Essa luz me favorece. Eu quero uma luz assim no meu quarto.
Mas eu não posso roubá-la, a lei diz.
A lei diz muitas coisas.
Opa! Eu estou rindo agora, como assim?
Três desconhecidos sorrindo pra mim lá de dentro do metrô.
E dando tchau. Eles sabem que foi a última vez que nos vimos, né?
Deviam voltar pelo outro lado pra minha teoria se quebrar.

Minha boca implora - sede.
Meu estômago concorda - fome.
E daí que eu não como faz um bom tempo?
Minha mente sussurra:
"O rumo do texto mudou, você está feliz".
Eu estou feliz.

Eu estou feliz, moço.

(Estela Seccatto)

10 de novembro de 2010

Don't mind, it's a common reaction.

Cada um deveria se colocar em seu devido lugar. Não reclamar e depois fazer igual, não ir contra seus ideais, não deixar de fazer algo só porque a sociedade te julga a todo instante. A partir do momento em que suas atitudes afetam você e somente você, nada mais importa. Mas as pessoas tem grupos, rolês, amigos, colegas, conhecidos e agem de acordo com a opinião deles e não a própria opinião. Não se preocupe, é uma reação comum que ainda tem conserto. Você pode sorrir ainda, basta sorrir e falar 'porra, só acontece merda comigo' ao invés de chorar pelas merdas que acontecem. Ou então me conte uma história em que lágrimas fizeram tudo mudar e a merda se desfazer. Quero dizer, atire sua máscara quando todos tiverem à sua volta e espere a maioria se afastar. Quem ficar do seu lado sem fechar os olhos tem seu devido valor quando se trata de amizade. O fato é que tem gente que não tira a máscara mas se entrega em atitudes e essas pessoas são alvo do meu asco. Qualquer pessoa, quando ouve o que eu tenho pra dizer, acha que eu estou terrivelmente mal. Mas e então? Eu não estou. Se a minha presença não faz diferença ao mesmo tempo existem pessoas que sentem minha falta e eu sei onde eu me encontro feliz. Quem correu atrás um dia espera que eu corra também supondo me conhecer, mas se me conhecesse saberia que eu não dou mais do que três passos verdadeiros pra recuperar algo que não me afeta. O problema é que eu estava lá de verdade e foi real os ombros que ofereci. Real ao ponto de poder sentir sua dor em mim. Real ao ponto de não querer te soltar do nosso abraço pra não te fazer olhar pra quem te fazia mal. Mas então tudo se volta contra mim e não, não sou nenhuma vítima dessa história. Você correu pro que te fazia mal julgando te fazer bem e meus ombros não tiveram mais nenhum valor. A segurança que você dizia ter quando estava comigo pulou de repente para os braços de outro alguém. E quem supunha me apoiar não me apoiou e eu entendi na hora, entendi em seguida mas depois eu não entendi. Não pelo fato da falta de apoio e demonstração, mas pelo fato de que não recebi ao menos um 'obrigada por nos apresentar e fazer isso tudo acontecer'. Ao invés de pedir desculpa e tentar falar comigo como se nada tivesse acontecido, me tire da vida e das memórias porque eu não me importo mais. Quando a sua máscara cair espero que ninguém te deixe sozinho como eu prometia nunca deixar. Quando cada um for pra um lado espero que não sintam minha falta pois eu já estarei fixa no meu lado longe de você(s). Te descobrir sensível ou horrível, pra mim, tanto faz. Eu já te descobri da pior forma. Só não é legal quando alguém fala: "Jura que ela fez isso? Mas você curtia ela pra caralho!". Pois é, eu te curtia pra caralho e muita gente ainda vai te curtir pra caralho então pense duas vezes antes de perder mais alguém que te valorize. Se coloque em seu lugar o quanto antes, porque se a máscara cair em lugar errado seu coração queimará com a cinza de outros cigarros..


(Estela Seccatto)

28 de outubro de 2010

Eu sou um lixo..

..Até o momento em que você conhecer alguém pior do que eu.


(Estela Seccatto)


16 de setembro de 2010

Quando for

Quando ia a cada dia, ia sempre respirar
Tentava te dar o ar, mas não o tinha nem pra mim
Assim como os motivos, razões ou respostas
pras dúvidas que nunca quis te perguntar

Quando vai a cada dia, toda vez é um adeus
Depois de um tempo a gente pensa em desistir
Pra que tentar recuperar o seu 'eu'
se, nem o meu 'eu', eu consigo encontrar?

Quando for a cada dia, quero saber se voltará
Me dê a certeza de que, ao seu lado, um amanhã existirá
Mas prometa apenas outro dia e não a vida inteira
Larga na mão do destino porque ele o fará

Quando vier, venha devagar, faça durar
Deixa o tempo parar, para o tempo pra eu te olhar
Não solte sua mão da minha e meus braços do abraço
Deixa o medo de lado, deixa de pensar que vou soltar

Sem promessas, sem planos, mas sempre mais além
Sempre quando vem é quando me sinto bem..

Quando for de novo sem intenção de voltar
Deixe comigo o motivo, a resposta e a razão
Diga antes que me amou e por favor não me esqueça
Me guarde ao menos na cabeça, eu vou te ter no coração


(Estela Seccatto)

13 de setembro de 2010

Eu sei muito sobre mim, sei me dar valor e sei me odiar.

Sei que posso pensar em desistir. Posso cair, chorar, vai doer, vou morrer. Sei que sou fraca e que minhas pernas tremem. Sei os momentos que não posso aguentar, sei que erro e que oculto os erros que assisto. Sei que não passo de um ser qualquer, um ser humano.. E de humano são poucas as minhas atitudes. Mas sei que existem seres de formas parecidas com a minha agindo como um mero animal irracional. Sei que não sou irracional. Pelo menos não sou na maioria dos casos.
As vezes meu coração comandava e eu achava certo. Agora permito a razão liderar.. Mas amor e razão é coisa de ser humano, não é? A opção de escolha também, e eu a tenho. Já vivi planejando um futuro inteiro e hoje vivo como se fosse morrer a cada noite de sono. E ainda acho que dormir é uma perda de tempo que, infelizmente, o corpo necessita. Me arrependo e acho isso um dom para poucos, não me julgo uma pessoa tão ruim. Não sou ruim. As vezes. As vezes sou ruim. Mas sou bem pouco ruim. As vezes sou muito ruim. Mas me responda então, quem é que é perfeito? Não sou perfeita mas não sou a pior das coisas. Ninguém é o pior nem o melhor. Meu conceito de ruim pode ser o seu de bom.
Não tente ir contra minhas palavras, opinião não se discute. Me acho uma pessoa seca, fria, e estou bem assim. Já fui mais carinhosa, era constante, costume. Hoje sou com quem eu quero, na hora que quero e quem me quer por perto já se acostumou. Não me importo quando penso que fiz merda. Alguém fez a merda comigo, não só eu.
Se disser que me ama e eu disser que gosto de você.. Ou não disser nada, me agradeça. A sinceridade está se tornando a maior parte de mim. Não seria hipócrita a ponto de falar que nunca fui falsa, que nunca menti.. Sou falsa com pessoas até hoje pra não causar intriga, mas eu deixo bem aparente. É.. se eu sou muito chata com você é porque eu não gosto de você. Sei que sei falar sobre mim, mas não em uma linha. Nem em um texto como esse. Quem me conhece sabe: sou abestalhada. As vezes mau-humorada e cheia de piadas no sense.

Menti falando que era um ser humano.
Sou muitos seres em um só humano. Se é que sou humana, ainda..

(Estela Seccatto)

8 de setembro de 2010

Eu quero perder minhas férias.

Sei agora que você vê todas as coisas que eu faço e não deveria fazer. Me perdoe, eu nunca quis ser um desgosto. Eu nunca quis fazer parte de uma geração perdida, estragada.. Mas talvez eu precise esquecer que eu te perdi e que você não voltará. Entenda que eu não tenho mais alguém pra dizer: 'se cuida porque eu não estarei lá pra cuidar de você'. Sim, eu tenho meus pais, mas eu nunca acreditei muito neles como eu acreditava em você. Meu aniversário tá chegando e vai ser o primeiro sem seu abraço. Eu já deveria ter me conformado com essa ideia, que é a única opção, mas quem no mundo se conforma com perdas? Eu preciso que alguém tire a dor que esse vazio causa em mim. Eu não preciso de alguém me dizendo que tudo vai ficar bem. Eu preciso de alguém que realmente faça tudo ficar bem. Eu preciso parar de me perguntar se você não vai acordar. Preciso te sentir perto, mas esse é o máximo que você pode estar. Eu preciso ir pro Sul ou qualquer canto que me distraia e me faça sorrir. Eu preciso de um abraço ou de qualquer gesto que se mostre verdadeiro sem a necessidade de palavras. Eu preciso, eu imploro pra esquecer que te perdi. Esquecer de como me humilhei banhada em lágrimas diante de seu corpo. Esquecer como foi tolo e desesperador implorar pra não te levarem sendo que você já não estava mais ali. Eu seguro minha respiração pra não chorar, mas e quando as datas comemorativas chegarem e eu não tiver você por perto? Quero dizer: até que ponto eu sou forte? Em que ponto eu vou implorar de novo por alguém pra me segurar, sendo que já o fiz algumas linhas atrás? Arranque essa dor de mim, arranque a dor de te perder porque perdas não tem volta. Queria ter coragem e insensibilidade suficiente pra pedir que me arranque as memórias, mas isso eu nunca vou perder, eu não quero perder. Tire de mim a sensação de encostar na sua pele gelada. A sensação de ter que forçar seu rosto pra fingir que você se foi com um sorriso e então perceber que costuraram seus lábios para sua imagem ficar mais bonita. Tire de mim meus olhos vermelhos que estão aqui desde aquela madrugada. Eu quero perder minhas férias cuidando de você. Eu quero ter certeza que na hora que partiu não sofreu. Eu não quero palavras de consolo, eu quero um abraço de alguém tão verdadeiro como o que é por dentro. Eu quero que essa carência de você desapareça no carinho de outro alguém. Me perdoe, eu nunca quis ser perdida, estragada.. Ou fazer parte de uma geração.



(Estela Seccatto)

27 de agosto de 2010

Não por você.

Por você eu não choro mais.
Não! Por você eu não vou andar ou correr.
Não vou sonhar, não vou me mover, não vou lutar.
Não por você.

Por você eu não caio mais.
Não! Não arriscarei nem mais um passo pra te ver.
Não vou fugir, não vou mentir nem omitir.
Não por você.

Por você eu não vivo mais.
Não! Não farei de tudo nem de pouco pra ter, te manter.
Não tento, portanto, não me levanto.
Não por você.

Sem você já não sei mais.
Não! As coisas não melhoraram ou começaram a se perder.
Não tenho argumentos pra voltar..
ou ficar sem você.

(Estela Seccatto)

16 de agosto de 2010

Carta de Graciliano Ramos para Heloísa.

Heloísa,

Chegaram-me as duas linhas e meia que me escreveste. Pareceram-me feitas por uma senhora muito séria, muito séria! Muito antiga, muito devota, dessas que deitam água benta na tinta. Tanta gravidade, tanta medida, só vejo em documentos oficiais. Até sinto desejo de começar esta carta assim: "Exma.Sra.: tenho a honra de comunicar a V. Exa., etc".
Onze palavras! Imaginas o que um indivíduo experimenta ao receber onze palavras frias da criatura que lhe tira o sono? Não imaginas. E sabes o que vem a ser isto de passar horas acordado, sonhando coisas absurdas? Não sabes. Pois eu te conto.
Sento-me à banca, levado por um velho hábito, olho com rancor uma folha de papel, que teima em tornar-se branca, penso que o Natal é uma festa deliciosa. Os bazares, a delegacia de polícia, a procissão de Nossa Senhora do Amparo.. E depois o jogo dos disparates, excelente jogo. "Iaiá caiu no poço". Ora o poço! Quem caiu no poço fui eu.
Principio uma carta que devia ter escrito há três meses, não posso concluí-la. Fumo cigarros sem contar, olhando um livro aberto, que não leio. Dançam na minha cabeça uma chusma de idéias desencontradas. Entre elas, tenaz, surge a lembrança de uma criaturinha a quem eu disse aqui em casa, depois da prisão do vigário, nem sei que tolices.
Apaga-se a luz, deito-me. O sono anda longe. Que vieste fazer em Palmeira? Por que não te deixaste ficar onde estavas? Não consigo dormir. O nordeste, lá fora, varre os telhados. Na escuridão vejo distintamente essa mancha que tens no olho direito e penso em certa conversa de cinco minutos, à janela do reverendo. Por que me falaste daquela forma? Desejei que o teto caísse e nos matasse a todos.
Andei criando fantasmas. Vi dentro de mim outra muito diferente da que encontrei naquele dia. Por que me quisestes? Deram-te conselhos? Por que apareceste mudada em vinte e quatro horas? Eu te procurei porque endoideci por tua causa quando te vi pela primeira vez. É necessário que isto acabe logo. Tenho raiva de ti, meu amor.
Fui visitar o Padre Macedo. Falou-me de ti, mas o que me disse foi vago, confuso, diante de dez pessoas. É triste que, para ter notícias tuas, minha filha, eu as ouça em público. Foram minhas irmãs que me disseram o dia do teu aniversário e me deram teu endereço.
Tinha razão quando afirmaste que entre nós não havia nada. Muito me fazes sofrer. É preciso que tenhas confiança em mim, que me escrevas cartas extensas, que me abras largamente as portas de tua alma.
Beijo-te as mãos, meu amor.
Recomendo-me aos teus, com especialidade a dona Lili, que vai ser minha sogra, diz ela. Acho-a boa demais para sogra.
Amo-te muito. Espero que ainda venhas a gostar de mim um pouco.

Teu Graciliano.

Palmeira, 16 de janeiro de 1928.

11 de agosto de 2010

Professor

Um professor chamado Heric veio de uma cidade pequena para a grande São Paulo. Achou estranho, rápido demais, cinza demais, gente demais, carro demais. Os anos foram se passando e ele se tornava um paulista. Um paulista na Paulista. Estava indo para a unidade em que ia dar aula (lá perto da Augusta, onde tudo é possível) e avistou logo a sua frente uma moradora de rua fazendo suas necessidades ali, na calçada. Desviou, mudou o passo e simplesmente seguiu o seu caminho.

E agora ele se pergunta o que eu comecei a me perguntar: que atitude foi essa? A gente se acostuma com as coisas e eu acho que precisamos rever alguns conceitos. Caminhão derrapa na pista: "ah, isso acontece sempre". Menina é estuprada em tal lugar: "ah, isso é normal naquele bairro". Senhor é atropelado na rua de trás: "ah, é comum".
Eu só pergunto à vocês: NORMAL? Precisamos rever nossos conceitos, precisamos parar de aceitar essas coisas absurdas que acontecem e que não, não são normais! Eu não estou sendo ignorante para achar que assim mudaríamos o mundo, essa não é minha meta. Em relação ao mundo eu sou um número. Não importa se eu faço alguém rir ou chorar, não importa se eu sofri muito. Nada da minha história importa pro mundo. O que importa é meu número do CPF - e eu ainda nem fui capaz de decorá-lo.


Normal deveria ser o homossexualismo, os negros, as atitudes extravagantes, os vários estilos musicais e as milhares de mutações, sejam elas genéticas ou não.z

(Estela Seccatto)

9 de agosto de 2010

Give me your opinion.

"A: Inveja porque as outras pessoas podem te abraçar e morder e eu não.
B: Eu só quero a sua mordida.
A: Eu só quero você.
B: Vem dormir comigo hoje?
A: Só hoje? Não pode ser pra sempre?
B: É que era um plano maligno.. você ia vir, achando que era só hoje, e eu ia te roubar pra mim.
A: Eu aceito ser sua refém.
B: E se o mundo te quiser de volta? A gente pode se esconder debaixo do cobertor?
A: Vamos trancar até a porta do quarto pra ter certeza de que eu vou ficar com você."

-E então? O que achou?
Os olhos percorreram as palavras por mais alguns minutos e olharam novamente em minha direção. A respiração foi profunda e as mãos finalmente deixavam o livro. Nenhuma expressão, nenhum sorriso e nenhum semblante de desgosto. Acendeu o cigarro, andou até a janela e ficou olhando o céu, o trânsito, as pessoas.. Na mínima intimidade que podíamos ter, me dei o direito de ir ao seu lado. Eu esperava uma resposta. Fiquei olhando as mesmas coisas que aquele olhar cansado olhava. Me deliciei por alguns minutos da paisagem urbana. Fazia tempo que eu não olhava por uma janela. Ele deu um trago no cigarro e me ofereceu. Dei um trago e o devolvi, não queria abusar. Soltou a fumaça e falou, olhando pra uma nuvem qualquer:
-Isso não é um livro, não é história, não é um conto.
Tanto mistério pra não dar nem um pouco de valor pro meu esforço? Escrevi tudo isso pra nada? Eu não estava indo no caminho certo? Eu só queria a aprovação daquele grande mestre da literatura, mas que diabos! O fato é que eu queria quebrar tudo, sair e bater a porta. Chamar ele de ignorante. Mas eu sabia que ele não era ignorante. Minha história que devia estar ruim mesmo. Ele se virou, andou até a mesa, pegou o rascunho do meu livro e o esticou pra mim na intenção de me devolver. E assim o fez. Peguei as folhas, caminhei até a porta sem dizer nada. Faltava pouco pra porta se fechar quando eu ouvi:
-Pra mim isso é amor.
Virei o rosto e o vi sorrindo. Sorriso de gente experiente. Ele arrumou os óculos e eu sorri de volta. Sai daquela sala com um só pensamento: "É, isso é amor".



(Estela Seccatto)

13 de julho de 2010

Noi che siamo nomadi d’amore

persi nei deserti di città,
anime sospese fra voglia di sognare
..e la quotidiana realtà.

Noi che abbiamo sempre in mente un’oasi
e una notte da passare là,
siamo quelli che
non cambieranno mai.

Tu già sai che questa è la verità..

Non so che dirti adesso io
se chiedi di star sola un po’.
Come vuoi tu, ma in cuore mio,
mi sa che non ti rivedrò.

A questo punto non lo so,
non so che dirti più di quello che.. che tu già sai.

(Eros Ramazzotti)

18 de junho de 2010

Futuro do presente

E há tanto tempo eu quis o que um dia você quisera. E não foi simultâneo, não foi constante, estava fora de cogitação. Estava fora da minha mão. E hoje eu olho pra frente e só faz sentido se eu tiver você. Hoje tudo voltou e nós nos sentimos iguais. As luzes podem se apagar eternamente se eu tiver você. Se o mundo se quebrar o que importará é se vou estar no mesmo pedaço que você estará. Se o mundo não te quiser, nem se for por um segundo, eu vou te querer, eu me esconderei com você. E se um dia o sorriso desistir da sua boca eu vou insistir nela e o brilho vai desistir do meu olhar. E te tocar - um sonho. Te sentir, te respirar - vou poder, enfim, viver. Quando pudermos nos ter eu não vou deixar nada se perder. Sei que posso ter amores e paixões, posso morrer por vários outros corpos, mas é de você que eu preciso. Não apenas um outro corpo.. Preciso das suas vontades, dos seus sonhos, dos seus olhares, da sua alma abraçando a minha. E há tanto tempo guardamos segredos, escondendo os medos, fingimos que só aquilo bastava.. Mas sabíamos que só nos segurava pra mais um dia. O que me mantém hoje de pé é saber que um dia eu vou poder te abraçar. Tanto tempo perdido.. Prefiro a dor de não poder te ter agora mas saber que você quer estar aqui, do que a angústia de te amar em silêncio, com receio de dizer, igual já aconteceu..

E um dia ao acordar você me terá ao seu lado como no sonho, amor, como no sonho.. Vamos nos acomodar nos lençóis amassados, desejando aquilo todos os dias. Vamos ter preguiça e será lindo.. Lindo! Fixarei meus olhos nos seus olhos verdes e esperarei você sorrir pra me matar mais um pouco. Brincarei com seu cabelo até seus olhos se fecharem novamente. Ficarei observando seu sono e seus traços. E então tocarei em seus lábios com a mão. E então tocarei os seus lábios com meus lábios. Sempre com cuidado pra você não despertar. Continuarei a acariciar seu cabelo, seu rosto, seu pescoço.. E o dia estará correndo lá fora e o telefone te assustará, mas não iremos atender. Não iremos nos mover enquanto nossos corpos não implorarem. E quando isso acontecer seus movimentos pela casa serão lentos e eu vou me apaixonar um pouco mais. E eu te abraçarei forte até você fazer careta e me pedir para parar. Vou rir até te ver rindo também. E qualquer palavra que disser eu não vou prestar atenção, sua voz entrará em mim e ficará dançando, despertando meu sorriso. Eu vou me apaixonar um pouco mais.

Tomaremos banho e nos arrumaremos, enfim. Observarei seu estilo que sempre me conquistou. Seu All Star combinará com meu All Star e seu cabelo bagunçado bagunçarei ainda mais. Deitarei na cama com a consciência da sua demora pra se arrumar - eu já estarei pronta. Fecharei meus olhos e sonharei ainda acordada, com você.. Como sempre sonhei. Eu vou me apaixonar um pouco mais. Sentirei sua mão em mim, avisando que já podemos ir. Sairemos de casa e você lembrará que esqueceu de algo. Voltará correndo para buscar. Sairei do carro e pagarei uma flor do vizinho pra te dar quando voltar. Você voltará e não teremos rumo algum. Isso não importará. Com você em qualquer lugar.. Sei que vou me apaixonar um pouco mais.

Hoje eu olho pra frente e só faz sentido se eu tiver você.

(Estela Seccatto)

16 de junho de 2010

Distante

Manter-te afastado hei de fazer.
Nesse mundo quebrado sem um porque.
E por ti eu já não sei seguir, não sei sorrir
Sigo por mim, sigo porque tenho que seguir..

Manter-te afastado hei de fazer
Se torna errado o que nos fazia um só ser
E por nós nenhuma palavra há de ser dita
Somos dois novamente, há algo que nos limita..

E querendo justiça te pedirei
Entregue em minhas mãos o que um dia te dei
Se tu choras, então, é porque um dia chorei

Decisões machucam o meu ser
Mas mentiras e omissões tiram meu querer
Manter-te afastado, é errado, mas hei de fazer.

(Estela Seccatto)

7 de junho de 2010

-Sabe o que eu odeio em ti?

-O que?
-O fato de todas as noites quando eu to longe de você, tu me fazer sentir vontade de ficar perto de ti pra sempre.

(Juliana Santos)

5 de junho de 2010

Há meia hora.

Agora pouco estava vindo pra casa com meu pai. Estava ansiosa, angustiada -como sempre- pra chegar logo em casa, colocar o pijama e ficar no computador. Estava torcendo pro meu pai não querer conversar, ele sempre filosofava sobre a vida. Começou a falar do interior..
-Você é igual eu. Eu gostava de andar a noite olhando o céu.
-Aqui eu não posso andar a noite e o céu não tem estrelas.
-Eu fiz um poema chamado silêncio.. Era uma página em branco.
Fiquei pensando se isso me soava poético ou se eu deveria achar estúpido. Achei poético, enfim. Continuamos andando e ouvindo apenas nossos passos. Ele me disse que se tme uma coisa que ele gosta na cidade, é a favela. Prossegui quieta tentando fazer com que ele fizesse o mesmo. Na metade do caminho ele me disse:
-Já que você tá andando e não tem outra opção, porque não olha pras coisas ao seu redor?
Continuei quieta mas percebi que até então só tinha olhado pro meu próprio pé. Levantei a cabeça e vi as coisas apagadas pela neblina. Surgiu a dúvida: aquilo era feio demais, cinza demais ou era bonito? Lembrei do 'Carpe Diem', comecei a ser otimista, desfiz minha expressão de emburrada e achei bonito. Aquela rua deveria ter história.
Andando mais um pouco avistei um pneu no meio da rua. Estava todo sujo e molhado. Meu pai o pegou sem nojo algum e o colocou na calçada. O olhei com cara de dúvida e ele sorriu dizendo:
-Poderia causar um acidente.
Eu sorri de volta. Um pouco mais a frente ele parou e pediu que eu esperasse. Acendeu um cigarro. Voltamos a andar.
-Calma filha, você anda muito rápido.

Eu acho que a gripe de amanhã vai valer de algo.

(Estela Seccatto)

21 de maio de 2010

Eu não vivo por você.

Eu vivo porque há ar do lado de fora e aparelho respiratório aqui dentro. Vivo porque me colocaram no mundo e eu quero ver onde isso tudo vai dar. Eu também não morro por você. Por que eu eliminaria todas as outras coisas da vida por causa de uma pessoa? Eu não deixaria meus amigos aqui por causa de você. E se seu amor é de verdade, você não gostaria que eu te deixasse, não é?! Você não é o amor da minha vida. Se fosse.. quantas vidas eu precisaria ter? Com tantos 'amores da minha vida'.. Isso pode ou não acabar. Existe 50% de chance de você sair andando em direção à porta e me dizer adeus (ou eu posso fazer isso, tanto faz). E existe 50% de chance de nos aguentarmos e mantermos um equilíbrio.. 50% de chance para suportarmos defeitos e brigas. Essa metade parece mais difícil né? Você não vê que nós podemos enfraquecer a qualquer momento? Eu não vou lutar, não vou correr atrás, não vou implorar ou me ajoelhar, não vou relevar erros e deslizes. Não vou pensar por horas em palavras e presentes bonitos pra te agradar. Não vou tentar melhorar ou mudar por você. Não vou jurar ser eterno, muito menos tentar de tudo pra fazer durar. Se tiver que durar, vai durar. Com isso tudo você pode me odiar ou simplesmente perceber minha sinceridade. Na minha vida existe tantas outras coisas.. Você não é tudo pra mim! Meu coração eu deixei de lado, mas, de alguma forma, eu te amo. Eu apenas te amo. E se depois disso você ainda me aceitar, me querer, me desejar, talvez eu acredite um pouco no seu amor. Mas não pra sempre.
Nunca pra sempre.

(Estela Seccatto)

Suponhamos que eu jogue uma pedra no rio

e essa pedra assuste um peixe que aí saia saindo..
Quanto à ordem natural a que chamamos 'destino',
estaria participando ou estaria interferindo?

(Forfun)

17 de maio de 2010

Liberdade, um raro prazer.

"Eu fumo, com muito prazer. Há 12 anos, o cigarro é parte fundamental do meu dia. Minhas pequenas rotinas só estão completas depois de algumas baforadas. Não tenho a menor vontade de parar de fumar. O cigarro me concentra, me acalma, me faz companhia, me consola e alivia a minha tensão. Fumar é um prazer. Um prazer destrutivo, inútil e arriscado, alguém há de apontar. Sim, como só os grandes prazeres da vida podem ser. Como caminhar pela cidade de madrugada ou amar uma mulher. Não existe prazer sem risco.
Eu sustento o meu vício, pago meus impostos e consumo um produto legal, regulamentado e taxado. Mas sou tratado como um cidadão de segunda classe em função de um patrulhamento humilhante e abusivo que avança justamente sobre duas coisas que me são tão caras: o cigarro e, em especial, o direito a uma vida menos chata e sem graça. Nos últimos anos, essa esquadra dos bons hábitos transformou o mundo num lugar insuportável. É proibido fumar em avião. É proibido fumar em restaurante. Os maços de cigarro vêm com aquelas imagens ameaçando: "Se você fumar, eu te pego lá fora". Basta! Hoje eles proíbem o cigarro, amanhã vão querer banir o açúcar, o café, o doce de coco, a Fanta Uva, o cine-privê dos motéis, até o dia em que todo mundo vai acordar tomando açaí na tigela e fazendo 50 abdominais.
Viver mais, assim, para quê? Posso ser acusado de ser um idiota sujeito a câncer de boca e de pulmão, mau hálito, perda dos dentes e impotência sexual. Mas alguém que preza, acima de tudo, o direito de ser o idiota que quiser ser.
A fumaça do meu cigarro incomoda. Mas esse não pode ser um argumento definitivo para que o direito alheio prevaleça sobre o meu. Isso não pode servir para justificar a intolerância, porque há uma convivência possível entre as partes que exige apenas um ambiente arejado e boas doses de bom senso. Se o meu cigarro incomoda, há uma série de coisas que também não me agradam muito, como pessoas que falam sem parar, axé music ou mulheres vestidas em desacordo com a sua faixa etária. Mas parto do pressuposto de que somos adultos o suficiente para sermos ridículos cada qual à sua maneira, falando sem parar, requebrando de modo frenético atrás de um trio elétrico, ou se vestindo de forma caricata. Ou fumando.
"Crianças começam a fumar ao verem os adultos fumando." É verdade. Mas crianças também começam a agredir quando vêem os adultos agredindo e a beber quando vêem os adultos bebendo. Seria o caso de confinar a realidade que não nos agrada num fumódromo do lado de fora? Ou de educar nossos filhos apropriadamente, para que eles olhem o mundo com o devido juízo de valor? A responsabilidade pelo discernimento do que é certo ou errado das crianças que começam a fumar é de seus respectivos pais. Não é minha, nem da Souza Cruz ou da Phillip Morris. Pouco me importa se o meu filho será fumante ou não-fumante. Me importa, sim, a compreensão que ele vai ter de valores como a tolerância e o convívio com as diferenças. Tão em falta em hordas antitabagistas.
Nas propagandas de cigarro enganam o consumidor. A lei nº 10.167, de dezembro de 2000, proíbe a propaganda de cigarro, mesmo sendo este um produto legal. Supostamente para evitar a má influência dessas peças publicitárias sobre os mais jovens. Seguindo esse raciocínio brilhante, seria importante prestar alguns esclarecimentos que, espero, não estraguem o dia de ninguém: energético não faz voar, cerveja não atrai mulher bonita e panetone não reata laços familiares rompidos. Se o governo tem problemas com propaganda enganosa, poderia ter começado a resolvê-los no próprio quintal há três anos, quando lançou uma propaganda desrespeitosa em que a figura de um traficante estabelecia um paralelo absurdo entre o cigarro e as drogas ilícitas. O tráfico de entorpecentes, até onde eu sei, não gera 5,5 bilhões de dólares aos cofres públicos por ano em impostos, dinheiro que, ao que parece, não faz mal à saúde financeira de nenhum Estado.
A partir do ano que vem, de acordo com essa mesma lei, eventos culturais patrocinados pela indústria do cigarro também estarão proibidos. Vistos como meras peças publicitárias (bobagem, todo mundo sabe que o que menos se fumava no Hollywood Rock era cigarro...), festivais relevantes como o Carlton Dance e o Free Jazz estão com os dias contados. Mas festival patrocinado por marca de uísque pode. Há diferença? Claro. No décimo cigarro, você sente um leve pigarro. Na décima dose de uísque, você está sujeito a não ir trabalhar, a bater na mulher, a entrar na contramão...
E depois nós, fumantes, é que somos os ignorantes."

(Jardel Sebba - VIP) gracias @taminakamura

4 de maio de 2010

Justiça é fechar os olhos.

Muita saudade em tão pouco tempo. Lembranças, momentos. Nosso rosto ao vento. Guardo agora a dor de te perder, não preciso demonstrar mais do que já demonstrei. Tiveram dó, tiveram pena de mim! E pouco me importa o resto do mundo agora. Ah, se pudéssemos voltar atras... E agora eu sei como preciso ser forte. Eu preciso acreditar que você não vai voltar, mas eu não acredito, eu não acredito! Me mande notícias... Eles estão te tratando bem por aí? Você está sentindo minha falta? Eu preciso saber que você está bem. Se você tivesse noção do quanto dói... E como dói! Meu Deus, eu cuidei tanto de você, não posso acreditar que você partiu por erro deles. Malditos, insensíveis! Se dependesse de mim, de nós, você estaria em casa descansando, assistindo o jornal ou o filme repetido. Mas eles não se importaram, eles te deixaram morrer. Eu preciso de justiça, eles te mataram! Assassinos! E agora eu morro aos poucos por saber que nunca mais vou poder sentir sua pele, seu carinho, seu cheirinho de experiência que ninguém mais tinha. E seu sorriso? Consegue imaginar a falta que vai me fazer? Nossa, se você conseguisse... Mas não consegue, ninguém consegue. E agora eu apunhalo meu coração e o jogo para longe. Preciso me livrar pois tudo machuca demais. É quando você percebe que as pessoas se vão uma hora ou outra, de uma forma ou de outra.. E você é um simples solitário. Eu sou uma simples solitária. E de que vale? Me tire dessa vida agora, me arranque essa dor. Eu preciso dormir e acordar amanhã em um mundo diferente... Sabendo que tudo está bem. Por favor, feche meus olhos.

(Estela Seccatto)

Foi melhor assim

Quando eu te vi no bar, rindo e brincando
entre amigos, estranhos para mim,
me perdi nos teus olhos, fui ficando
sem rumo, sem começo, meio ou fim.

Qual seria teu nome, a tua idade?
Que pensarias tu, caso soubesses
deste pobre poeta, da ansiedade,
dos meus sonhos de amor, das minhas preces?

Mas foi melhor assim. Tu foste embora,
eu paguei minha conta, e sem demora,
Fui pra casa dormir nos braços teus.

Os braços teus, porém, só vi em sonhos,
devaneios noturnos, bons, risonhos.
Não te conheci. Não houve adeus.


(Castelo Hanssen, Um cego fitando o horizonte)

Será?

Será que é melhor ver passando na rua o amor da sua vida e não dizer olá, evitando o adeus? As vezes sim, as vezes é bem melhor assim.

27 de abril de 2010

Não discuto a beleza do lugar.

Se é belo, é belo! Mas ah se você pudesse entender..
Essa beleza não me agrada sem você.
(Estela Seccatto)

Sou medíocre.

No sentido original da palavra, e não no atual.
(Estela Seccatto)

26 de abril de 2010

Maybe we're victims of fate

Remember when we'd celebrate?
We'd drink and get high until late

Sommes nous les jouets du destin
Souviens toi des moments divins
Planants, éclatés au matin

"I said: do you know how long it takes

before we die?"


Ah, se eu tivesse falado.. Mas eu só lembro de ter dito "a noite acho que eu venho aqui te ver" e depois de pouca conversa um simples "se cuida". Acho que ela tentou a vida inteira se cuidar. Já pensou que talvez você tenha que cuidar de quem ama? As vezes é difícil cuidar de você mesmo. Não dói falar que ama, não dói.. O que dói é nunca mais poder falar. Sai dessa cadeira, para de ler esse blog, fala o quanto você ama as pessoas que estão sempre com você. Se você soubesse o quanto tudo faz falta.. até as brigas. Se você soubesse como é triste o medo de esquecer da voz, dos momentos, das palavras. Eu não quero esquecer seu sorriso. E depois de tudo, quando tudo acabar, seja forte. Tem gente precisando de você pra se apoiar, e por mais que você esteja caindo, morrendo por dentro, se mantenha de pé. O simples ato de segurar uma criança no colo e dizer "ela foi pro céu, virou estrelinha".. O simples ato de não chorar quando outra criança começar a chorar, dizendo "ela vai fazer falta". O simples ato de se segurar ao máximo e falar pra todos "foi melhor assim". São esses simples atos que te fazem forte diante desse dia terrível, que poderia ser um outro pesadelo.. Mas chega uma hora que não dá, chega uma hora que eles te obrigam a se despedir. Como ser forte sabendo que é a última vez que você vai segurar aquela mão, acariciar aquele rosto, ver aquele semblante tranquilo.. Você, diferente dos outros que apenas dizem adeus, beija aquela pele gelada e deixa suas lágrimas para serem levadas lá dentro com ela. Você fala baixinho "manda um beijo pro vô, não esquece de ler minhas cartas, eu te amo.. vou sentir sua falta". Te tiram de perto, quanta insensibilidade! Você só quer alguns segundos a mais. Alguns minutos, algumas outras horas. Por favor, nós só queremos uma vida eterna perto de quem amamos! Suas pernas enfraquecem contra sua vontade, e pessoas fracas te pedem pra ser forte. Quem tem moral pra ser forte nessa hora? Seus olhos dóem, tudo dói. Te falta o ar e tudo embaralha na sua cabeça. As velhas lembranças, o momento da notícia, o medo de esquecer, o quanto você precisa ser forte. Acabou. E não volta mais, é uma certeza. Nossa.. você vai olhar pra frente e vai ser a primeira vez que você preferiria uma incerteza. "Será que acabou mesmo?" ..Como seria bom ter essa dúvida.

Quanto tempo, então? Você nunca sabe quando vai perder alguém, muito menos quando alguém vai te perder. A questão é: pra quem você já falou 'te amo' hoje? Já falou pra todos que você ama de verdade? Fale, por favor, eu imploro. Fale! Ah, se eu tivesse falado..

(Estela Seccatto)

23 de abril de 2010

I've had my wake up

won't you wake up?
I keep asking why
I can't take it, it wasn't fake
It happened you passed by.

14 de abril de 2010

"É curioso como não sei dizer quem sou.

Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo."

(Clarice Lispector)

13 de abril de 2010

Ao Desconcerto do Mundo

(Luís Vaz de Camões)

"Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.

Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado."

Desconcerto do mundo

Na aula de literatura o professor citou esse tal "desconcerto do mundo", explicando com exemplos o que era. Uma aluna se colocou a escrever, se levantou e foi tomar água. Seu grafite dizia:

"O desconcerto do mundo: Sabe quando você olha na rua uma injustiça acontecendo e se pergunta 'pra que?'. Então, o resto do mundo passa por aquilo despercebido, e você sente que sua mente está num plano paralelo às outras mentes. É você indo pra um lado e o resto indo contra. Sabe quando ninguém reclama de nada, mas algo te incomoda? Então você tenta consertar e agora está bem pra você mas ruim pros outros? É você indo pra um lado e o resto do mundo contra. E não apenas andar em sentido contrário, um lado pode estar simplesmente parado. Sabe quando o domingo está calmo e você se irrita com tanta tranquilidade? Sabe quando todos estão ansiosos e preocupados e você quer apenas um pouco de silêncio? É você em movimento e o mundo parado. É o vice-versa. Eu me olho agora, nessa aula de literatura e ninguém presta atenção no que o homem sábio diz lá na frente. Enquanto eu escrevo um texto sobre uma expressão comentada por ele. Esse desconcerto do mundo é uma simples falta de harmonia entre os seres que habitam tal. Sejam eles humanos, animais ou inanimados. Eu preciso me achar num lugar. Eu preciso sair da contramão. Agora todos saem da sala e eu permaneço sentada. Porque eles não entram no meu ritmo? Mancanza armonia in questo mondo!"
A menina guardou seu material, olhou para o professor, sorriu e saiu da sala.


(Estela Seccatto)

O mundo que me resta.

Falta pouco pro mundo que me resta desmoronar, mas eu vou correr atrás. Eu não me importo que eu já tenha caído, eu vou rastejar em sua direção. Eu só preciso que você me deixe tentar. Eu não quero te convencer do quanto estou arrependida, eu só quero que você se lembre das vezes em que eu disse que te amava, porque nunca foi mentira. Foi com você que eu aprendi a olhar nos olhos, a chorar sem medo e a sorrir também. E eu já não tenho forças pra manter qualquer sorriso no meu rosto agora que estou sem você. Apenas me diga que tudo vai ficar bem. Eu não quero perder o resto que eu tenho de você, se é que tenho ainda um pouco. E agora eu só acordo toda manhã porque eu sei que tenho um coração pra cuidar, pra reconquistar. Eu sei o tanto que o quebrei e eu daria meu coração inteiro em troca de um pequeno pedaço do seu. E mesmo caída eu continuo caindo, desmoronando. Mesmo sem vida eu continuo sonhando. Sonhando com o passado e com o futuro, pois a realidade do presente já não me agrada. Eu sei que eu aprendi mais cedo que você: "quem gosta menos sofre menos", mas eu nunca usei isso, eu nunca gostei menos e nunca quis gostar menos. Muito menos pensei na possibilidadede sofrer estando com você. Você também não gostou menos,nós gostamos num mesmo nível, o nível mais elevado que poderíamos. O mundo sempre esteve em segundo plano. Eu vivia em função de você, até os fogos estourarem nos meus olhos e me cegarem enquanto o ano mudava. Agora estamos sofrendo num mesmo nível. Quem gosta menos realmente sofre menos, mas não é o nosso caso. Sempre estivemos em equilíbrio. Equilíbrio físico, equilíbrio espiritual, equilíbrio nos olhares. Soubemos controlar, soubemos brigar e nos reconciliar.Soubemos dizer "te amo" na hora certa e soubemos, acima de tudo, amar. E eu ainda não desaprendi e não quero desaprender. Eu prefiro dormir pra sempre na esperança de sonhar eternamente com você, do que continuar em vida sabendo que você não vai me perdoar. Eu errei e eu farei de tudo pra consertar. Desculpa ter esperado demais. Falta pouco pro mundo que me resta desmoronar.. Não deixe isso acontecer, pois o resto do meu mundo é você. E eu vou correr atrás..

(Estela Seccatto)

7 de abril de 2010

Pedi uma palavra..

..me deram frustração.

A velha boneca sorridente não sorria mais - implorava pra menina ficar mais um dia para brincarem novamente. Os livros e cadernos empoeirados achavam um absurdo ela não os levarem para junto com ela sendo que, naquele momento, o que ela mais precisava era de palavras. O cobertor e o travesseiro permaneceram quietos e enrolados - não teriam quem os esquentasse nos dias frios. Os retratos, os enfeites, as mínimas coisas estavam tristes pois não teriam quem as mudassem de lugar. Mas a felicidade dos objetos se fez com apenas uma frase:

-Essa semana eu volto pra pegar minhas coisas.

Não obtivera resposta, provavelmente ninguém a ouviu. Foi até a sala e caminhou em direção à porta. Olhou para os olhos que há tempos não olhava, mas que conviveu por anos. E mesmo depois de tantos anos, eram apenas desconhecidos.

-Eu só queria que vocês se importassem. -Disse a garota.
-Isso a gente não escolhe.

Então a mãe desviou o olhar e o pai abriu a porta. A menina, com a mochila nas costas, olhou em volta se despedindo de sua história. Era um passado inteiro naquela casa. Precisava de um lar sem preconceitos..

5 de abril de 2010

Outra pessoa.


Olhando fixamente para outra pessoa, a menina pensava: "O que será que aconteceu? Porque será que ela chora tanto?" ..E ficava planejando uma forma de abordar a menina triste. Queria encontrar um modo sutil de oferecer ajuda sem demonstrar pena. Ela não estava com pena, ela só não gostava de ver tanta dor. Mas, cada uma de um lado do edifício, separadas por um vidro, não podiam ao menos se ouvir. E as pessoas encaravam a menina estranhamente, dificultando mais ainda todos aqueles pensamentos. "Eu preciso chegar até ela, ninguém me entende."..E as crianças fitavam a menina curiosa e sussurravam para os pais alguma dúvida inquieta. E os senhores de idade olhavam preocupados e tentavam disfarçar. As mentes mais cruéis mexiam a boca claramente: "deve ser louca". Será que só ela se importava com a menina que chorava? As pessoas estavam mais preocupadas com uma menina curiosa do que com uma menina que esbanjava dor em lágrimas? Aquela menina lá fora precisava de alguém para abraçá-la, precisava de um amigo. E a menina curiosa do outro lado se perguntava: "onde estão seus amigos?". E a cada pessoa que passava direto por ela apenas mostrava não haver resposta. Como era possível uma menina tão sozinha aquela hora na rua.. naquele frio? Como era possível ninguém notá-la ali? Apenas a menina de dentro do edifício a tinha percebido? Esse mundo está regredindo, não existe uma evolução visível. Um homem saiu do elevador, distraindo os pensamentos da menina curiosa. Deu boa noite e abriu a porta de vidro, colocando o pé pra fora dali. A menina que chorava não estava mais ali. Como ela poderia ter ido embora tão rápido? A porta então fechou na lentidão natural e a menina voltou, juntamente com sua dor e solidão.

Era seu reflexo que tanto chorava.

5 de março de 2010

She - Mat Musto

She closes her eyes,
she put her kids to bed,
and told 'em not to cry.
She closes the doors.

To the medicine cabinets
She wakes up on the floor
She's standing alone
in the middle of the street
With her ear to her cellphone

She loves to hear herself sing,
but she cries herself to sleep
as her world starts to sink.

She's walking to her hometown
just to see the leaves on the ground
The leaves on the ground,
And she don't wanna be found.
No, she don't wanna be found.
She don't wanna be found.
No, she don't wanna be found.

She thinks of the days
in her red camaro as the years speed away
and she wants to go back to
all the places that she's seen
and all the people she knew

and he treats her so bad,
and left her with two kids
he pretends he never had.
And we just try to stay strong
'cause even if your heart strays..
..you know where you belong

4 de março de 2010

Céu nublado, nada errado.

Céu nublado, tudo molhado. Nada errado desse lado, nada errado do outro lado. Árvore triste pensando nas folhas que acabavam de cair. Folhas tristes gritando "sou livre, e daí?". Estavam secas, estavam morrendo, desapareceriam enquanto outras estavam aparecendo. Banco úmido e encardido. Sozinho, perdido. Nenhum outro banco amigo. Era sempre disputado, nunca havia descansado. Não num dia de sol. Nos dias chuvosos observava de longe as crianças no farol. Pensava: "criança que não brinca não tem infância. Crianças, crianças.. Quando crescerem quais serão suas lembranças?". E a grama tão pisada e mal-tratada já estava cansada de tanta humilhação. Porque aquela gente desrespeitava o aviso e pisava nela ao invés do chão? A flor, com tanta cor, podia sorrir, mas só sentia dor. Dor da solidão. Não haviam mais flores no seu alcance de visão. Estavam escondidas ou jogadas por aí. Mesmo com tanta beleza, se enchiam de tristeza por não terem com quem sorrir. Alguns passarinhos no ninho acabavam de nascer. Esperavam pelo alimento que a mãe vinha-lhes trazer. Conversavam entre si, trocavam opiniões. Dizia um deles: "viemos nesse mundo pra que? Só vejo desilusões.". As pedras formavam um caminho e conversavam baixinho sobre voar. "Hoje estou aqui porque uma criança me jogou. Voei. Mas eu sempre fui do lado de lá.". Céu nublado, nada errado. Nada era engraçado, porém tudo tinha sua graça. Eu pertencia àquela praça.

(Estela Seccatto)

19 de fevereiro de 2010

"Mais um ser humano

queria abreviar a já brevíssima existência. Mais uma pessoa planejava desistir de viver. Era um tempo saturado de tristeza."

(O vendedor de sonhos - Augusto Cury)

12 de fevereiro de 2010

"I'd hate to take a bite outta you.

You're a cookie full of arsenic."

(Sweet Smell of Success, 1957)

3 de fevereiro de 2010

Rebel and a liberator

Find a way to be a skater
Rev it up to levitate her
Super friendly aviator
Take a look its on display - for you
Coming down no not today

Fly on away on my Zephyr
I feel it more than ever
And in this perfect weather
We'll find a place together
In the water where I center my emotion
All the world can pass me by

(Red Hot Chili Peppers - The Zephyr Song)

2 de fevereiro de 2010

E o sol insiste.

Você fica andando pela casa porque suas pernas estão cansadas de apenas balançarem. Calor, calor, angústia, calor, sol, ansiedade! Seria só um dia normal, se alguém não falasse "você vai tomar vacina hoje". Vacina? Hoje? Agulha no seu braço? Não. Não, não e não. A vacina é conhecida como 'vacina dos 15 anos', mas você já tem 17. Pra que essa vacina? Não te aconteceu nada até agora. Você tenta fingir que caiu no sono, tenta chantagear, repete 3 vezes por minutos: "tem certeza que não querem ir outro dia?". Quem sabe seus pais não aceitam e mais 2 anos se passam sem eles lembrarem?! Mas era certo de que você iria. Esse é o dia que você mais temeu por 2 anos. Você liga pra sua tia porque ela te dá coragem. Você a quer segurando sua mão. Em menos de 5 minutos você está lá. Ansiedade, ansiedade. Calor!
-Ela só precisa tomar vacina em 2014
Alívio. Agora o mundo era lindo, o sol era lindo,o sorvete de limão era lindo. Talvez o sorvete de limão sempre tenha sido lindo, mas para você ele estava explêndido! Você volta pra casa achando que toda a angústia passou. Você está errado. Volta pro computador, balança as pernas. Calor, muito calor. Ansiedade.

Começa no sol.


Tem sol entrando pelo vão da sacada. Você acorda e olha no celular (que se encontra debaixo de seu travesseiro) - 10h39min. É férias, é cedo. Mas você não gosta de acordar e já ter passado a hora do almoço. Você sabe que, se isso acontecer, você terá que tirar toda comida da geladeira. Tá sol, você odeia calor. Tem uma angústia aí dentro. Ansiedade, ansiedade. O problema é que você não tem compromissos marcados. Porque a ansiedade, então? Seus dois pés já estão no chão, e você abre a porta do seu quarto esperando não encontrar ninguém no corredor. Você cansou de ouvir "eu já falei pra você colocar o chinelo". Se já falou, porque repete? Não vai funcionar. Férias não combinam com chinelo. São 3 segundos do seu quarto ao banheiro.. 2 segundos.. 1 segun..
-Põe o chinelo!
-Bom dia pra você também.
Você entra no banheiro, apoia na pia e espera sua pressão voltar ao normal - isso acontece quase toda manhã. A visão fica preta, a sensação é estranha, mas é só esperar e lembrar de não levantar rápido no dia seguinte. Sua visão volta e você se pergunta olhando pro espelho: "Onde meu mau-humor começou? Na ansiedade, no chinelo ou agora?". E você nunca encontra a resposta. Talvez o mau-humor comece aos poucos. Abre a torneira, coloca as mãos na água. Você ama molhar as mãos no calor, você ama aquela sensação de limpeza. Mas você odeia esquecer de prender o cabelo pra lavar o rosto. Fecha a torneira, seca as mãos, prende o cabelo. Abre a torneira, passa a mão no sabonete e lava o rosto. Se olha no espelho. É nessa hora, exatamente nessa hora, que você sente um pouco de bom-humor. Olhar seu rosto molhado, limpo, fresco. Você o enxuga e nota uma nova mancha preta na toalha. Lápis ou rímel? Tanto faz, a bronca seria a mesma mais tarde. Você vai até a cozinha e procura algo pra comer. Mas você enjoou de bolacha e pão. Você quer ceral com leite gelado, mas só tem o leite gelado. Volta pro quarto na grande desilusão da manhã. Liga o computador e é aí que seu mau-humor se concretiza. Lentidão. Dez minutos para um clique. E suas pernas balançando apenas mostram que sua ansiedade não passou. Não tem ninguém no msn - apenas aqueles que trabalham ou que deixam o computador ligado durante a noite - ninguém que te interessa. Novos recados no orkut são apenas divulgações de qualquer coisa. Atualiza tudo possível, decide escrever no blog.
-Eu já falei pra não secar o rosto de maquiagem na toalha!
Você sorri sozinho, se sentindo o único imprevisível dali.

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(Estela Seccatto)

2 de janeiro de 2010

So now you want me to fix everything..

But baby there's so much and so little time to
Replace the things I've broken
Ripped apart, and thrown away
You can say that you don't miss me
I think about you every day