29 de dezembro de 2009

Cu.

"Certa vez escutei uma expressão extremamente bizarra. Tão bizarra que, obviamente, imaginei diversas explicações pra ela. Nenhuma plausível.

- Cara, que cansaço. Vou dormir até meu cu fazer bico!

E então meus pensamentos param pra especular sobre a cena. Por que eu nunca vi um cu fazendo bico. Nem o meu. Acho que é por isso que eu já acordo cansado. Eu nunca dormi o suficiente. Nunca dormi até meu cu fazer bico. E além da dificuldade de imaginar a cena propriamente, existem várias possibilidades de um cu fazer bico.

Situação: o cidadão acorda e vê que está sem seu cu. Fica terrivelmente assustado, é claro.

- Mulher, cadê meu cu? - Saiu. Foi fazer bico. Dormiu demais, mané.

E, a partir daí, surgem várias possibilidades. Ele sairia à procura do seu cu, e o encontraria vendendo sucos pela rua. A "banca de refrescos do Cu" estaria servindo sucos para ganhar uns trocados. Vivemos em uma época difícil. Achar emprego não é fácil hoje em dia. Principalmente para um cu cabeludo. Os empregadores têm um preconceito contra cabeludos que vou te contar. Então o cu estaria fazendo esse bico pra ganhar uns trocados e ajudar nas contas da casa.

Ou então ele encontraria seu cu em uma fábrica de bicos. Ele estaria ajudando a fabricar bicos para bebês. Estaria fazendo bicos. Para crianças e para mamadeiras. O que obviamente me causou nojo. Vá saber a procedência de um bico ou o nível de higiene de uma fábrica de bicos.

Mas eis a ideia que mais assusta qualquer cidadão: encontrar seu cu sendo fotografado, fazendo biquinho. Tipo aquelas caras que as pessoas fazem quando tiram fotos. Vocês sabem do que eu falo (...)"

Please, forget Kate.

Não podemos dizer que era só uma menina. O passado que ela carregava nas costas a definia muito maior. Não exatamente o que passara, mas as atitudes que tomava frente às situações. Sorria, e sorrir era o que sabia fazer de melhor. Até onde eu sei não tivera um grande amor. Não tivera ao menos pequenos amores. Mas tinha uma coleção completa de paixões. Não se importava se estava apaixonada por novos ou velhos, bonitos ou feios, meninos ou meninas; a forma nunca importava, o que importava era o coração.. Aquela coisa toda de qualidades e defeitos: se conseguisse conviver com os defeitos de alguém, ali se fazia uma nova paixão. E de paixões em paixões nunca a ouvi dizer 'te amo'. Talvez um medo se escondesse por inteiro em sua garganta, totalmente cravado ali. Doía pra falar e a dor era visível em seu olhar. Mas não posso dizer que ela não houvera tentado muitas vezes. Tentou a cada paixão. E em todos os finais, com o coração quebrado, jurava por tudo o que lhe fazia bem que nunca mais tentaria, nunca mais se apaixonaria. Mas a promessa era sempre quebrada quando o coração se consertava. Cada canto da cidade sussurra por aí sobre o sorriso que se desfez. Parece que sua última paixão foi quase um amor.. Ou talvez ivesse sido, de fato, um amor. Ela havia criado coragem pra falar aquelas três palavras que tanto a machucavam, e ela repetia essas palavras todos os dias, olhando nos olhos. Repetia em seus gestos, em seu olhar. E numa dor tão grande a pessoa foi embora, sem ao menos ouvir o suspiro que viria antes do último 'eu amo você'. E ela, sempre forte, continuous ua vida.. mas dessa vez sem sorrir. Eu queria poder dizer que a abracei e a acalmei, mas eu não o fiz. Então um alguém me disse num dia qualquer que ela fora embora para longe. E o vento gelado confirmou. Minha menina não voltaria, minha menina nunca saberia o quanto eu a amava. Eu teria ficado feliz por ela, pois ela apenas se afastara de suas lembranças, seus medos e suas dores. Eu sabia que ela não podia mais passar por aquela praça sem ficar triste, subir pro seu quarto sem lembrar e ver o inverno chegando sem sentir o ar machucando seu rosto. Eu sabia que seria melhor ela longe dessa cidade que tanto a machucava. Mas eu não tinha condições de visitá-la.. era outra cidade, outro país. Era tão longe. As vezes penso que talvez ela ficaria mais uns dias se soubesse que alguém a amava e que não era só uma paixão. Ela era sim o amor da minha vida, mesmo eu a amando de longe, mesmo eu a amando com simples olhares. E eu nem toquei em suas mãos. Eu nem senti o seu perfume. Eu amava seus defeitos e procurava andar sempre perto do perfeito pra um dia ser boa pra ela. Chegar e dizer 'eu amo você'. E não só dizer, mas agir. Amar. Não queria amar apenas em segredo, queria tirar todos os seus medos, mandar pra longe seu passado e ser seu presente mais feliz. Mas eu nem toquei em suas mãos.

E que um dia ela possa ler isso.
Seu nome? Amanda. Meu coração? Totalmente dela.

(Estela Seccatto)

20 de dezembro de 2009

The Artist In The Ambulance

Late night, brakes lock, hear the tires squeal
Red light, can't stop, so i spin the wheel
My world goes black before i feel an angel lift me up
and i open bloodshot eyes into fluorescent white
They flip the siren, hit the lights, close the doors and i am gone

Now i lay here owing my life to a stranger
and i realize that empty words are not enough
I'm left here with the question of just
what have i to show except the promises i never kept?
I lie here shaking on this bed, under the weight of my regrets

I hope that i will never let you down
I know that this can be more than just flashing lights and sound

Look around and you'll see that at times it feels like no one really cares
It gets me down but i'm still gonna try to do what's right,
I know that there's a difference between sleight of hand..
..and giving everything you have

10 de dezembro de 2009

Carência, diálogo. II

C- Você sabe o que está acontecendo? Onde estamos?
D- Não sei..
C- É muito barulho, o que estão dizendo?
D- Está silencioso pra mim.
C- Qual é o seu mundo? Você ao menos consegue me ver?
D- Quem é você?
C- Não sou ninguém, e você?
D- Você sabe quem eu sou.
C- Sei?
D- Sabe, você me ama.
C- Amo?
D- Ama.
C- É, amo.

(...)

C- Onde estamos afinal?
D- Em lugar nenhum.
C- Vamos fugir?
D- Prefiro ficar aqui.
C- Aqui onde?
D- Não sei, mas prefiro.
(...)
C- Você também me ama?
D- Cansei de perguntas.
C- Tudo bem, eu cansei de respostas.
(...)
D- Eu te amo.

(Estela Seccatto)

5 de dezembro de 2009

Carência, diálogo.

ca.rên.cia - sf (lat carentia)
-1
Falta do preciso.
di.á.lo.go - sm (gr diálogos)
-1
Conversação entre duas ou mais pessoas.


_________________________________________

A- Está frio hoje.
B-
Você está tentando puxar assunto?
A-
Não, só quero que você me esquente.
B-
Mas eu não te conheço.
A-
Tudo bem, apenas me esquente.
B- Porque eu faria isso?
A- Porque está frio

(...)

B- Já esquentou?
A- Sim, pode ir embora.
B- É assim? Só sirvo pra te esquentar?
A- Sim. Eu não te conheço.
(...)
B-
Eu vou embora
A-
Porque?
B- Porque está frio.
(...)
A- A gente vai se encontrar denovo?
B- Talvez.
(...)
A- Eu sentia sua falta em dias frios.
B- Mas você me conheceu hoje.
A- E só hoje eu descobri que sentia sua falta.
(...)

A-
Você não vai embora?
B- Você quer que eu vá?
A- Você quer que eu queira?
B- Não

A-
Eu não quero
B- Eu não vou.


(Estela Seccatto)

2 de dezembro de 2009

"É sempre bom lembrar..

..que um copo vazio está cheio de ar."