27 de abril de 2010

Não discuto a beleza do lugar.

Se é belo, é belo! Mas ah se você pudesse entender..
Essa beleza não me agrada sem você.
(Estela Seccatto)

Sou medíocre.

No sentido original da palavra, e não no atual.
(Estela Seccatto)

26 de abril de 2010

Maybe we're victims of fate

Remember when we'd celebrate?
We'd drink and get high until late

Sommes nous les jouets du destin
Souviens toi des moments divins
Planants, éclatés au matin

"I said: do you know how long it takes

before we die?"


Ah, se eu tivesse falado.. Mas eu só lembro de ter dito "a noite acho que eu venho aqui te ver" e depois de pouca conversa um simples "se cuida". Acho que ela tentou a vida inteira se cuidar. Já pensou que talvez você tenha que cuidar de quem ama? As vezes é difícil cuidar de você mesmo. Não dói falar que ama, não dói.. O que dói é nunca mais poder falar. Sai dessa cadeira, para de ler esse blog, fala o quanto você ama as pessoas que estão sempre com você. Se você soubesse o quanto tudo faz falta.. até as brigas. Se você soubesse como é triste o medo de esquecer da voz, dos momentos, das palavras. Eu não quero esquecer seu sorriso. E depois de tudo, quando tudo acabar, seja forte. Tem gente precisando de você pra se apoiar, e por mais que você esteja caindo, morrendo por dentro, se mantenha de pé. O simples ato de segurar uma criança no colo e dizer "ela foi pro céu, virou estrelinha".. O simples ato de não chorar quando outra criança começar a chorar, dizendo "ela vai fazer falta". O simples ato de se segurar ao máximo e falar pra todos "foi melhor assim". São esses simples atos que te fazem forte diante desse dia terrível, que poderia ser um outro pesadelo.. Mas chega uma hora que não dá, chega uma hora que eles te obrigam a se despedir. Como ser forte sabendo que é a última vez que você vai segurar aquela mão, acariciar aquele rosto, ver aquele semblante tranquilo.. Você, diferente dos outros que apenas dizem adeus, beija aquela pele gelada e deixa suas lágrimas para serem levadas lá dentro com ela. Você fala baixinho "manda um beijo pro vô, não esquece de ler minhas cartas, eu te amo.. vou sentir sua falta". Te tiram de perto, quanta insensibilidade! Você só quer alguns segundos a mais. Alguns minutos, algumas outras horas. Por favor, nós só queremos uma vida eterna perto de quem amamos! Suas pernas enfraquecem contra sua vontade, e pessoas fracas te pedem pra ser forte. Quem tem moral pra ser forte nessa hora? Seus olhos dóem, tudo dói. Te falta o ar e tudo embaralha na sua cabeça. As velhas lembranças, o momento da notícia, o medo de esquecer, o quanto você precisa ser forte. Acabou. E não volta mais, é uma certeza. Nossa.. você vai olhar pra frente e vai ser a primeira vez que você preferiria uma incerteza. "Será que acabou mesmo?" ..Como seria bom ter essa dúvida.

Quanto tempo, então? Você nunca sabe quando vai perder alguém, muito menos quando alguém vai te perder. A questão é: pra quem você já falou 'te amo' hoje? Já falou pra todos que você ama de verdade? Fale, por favor, eu imploro. Fale! Ah, se eu tivesse falado..

(Estela Seccatto)

23 de abril de 2010

I've had my wake up

won't you wake up?
I keep asking why
I can't take it, it wasn't fake
It happened you passed by.

14 de abril de 2010

"É curioso como não sei dizer quem sou.

Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo."

(Clarice Lispector)

13 de abril de 2010

Ao Desconcerto do Mundo

(Luís Vaz de Camões)

"Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.

Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado."

Desconcerto do mundo

Na aula de literatura o professor citou esse tal "desconcerto do mundo", explicando com exemplos o que era. Uma aluna se colocou a escrever, se levantou e foi tomar água. Seu grafite dizia:

"O desconcerto do mundo: Sabe quando você olha na rua uma injustiça acontecendo e se pergunta 'pra que?'. Então, o resto do mundo passa por aquilo despercebido, e você sente que sua mente está num plano paralelo às outras mentes. É você indo pra um lado e o resto indo contra. Sabe quando ninguém reclama de nada, mas algo te incomoda? Então você tenta consertar e agora está bem pra você mas ruim pros outros? É você indo pra um lado e o resto do mundo contra. E não apenas andar em sentido contrário, um lado pode estar simplesmente parado. Sabe quando o domingo está calmo e você se irrita com tanta tranquilidade? Sabe quando todos estão ansiosos e preocupados e você quer apenas um pouco de silêncio? É você em movimento e o mundo parado. É o vice-versa. Eu me olho agora, nessa aula de literatura e ninguém presta atenção no que o homem sábio diz lá na frente. Enquanto eu escrevo um texto sobre uma expressão comentada por ele. Esse desconcerto do mundo é uma simples falta de harmonia entre os seres que habitam tal. Sejam eles humanos, animais ou inanimados. Eu preciso me achar num lugar. Eu preciso sair da contramão. Agora todos saem da sala e eu permaneço sentada. Porque eles não entram no meu ritmo? Mancanza armonia in questo mondo!"
A menina guardou seu material, olhou para o professor, sorriu e saiu da sala.


(Estela Seccatto)

O mundo que me resta.

Falta pouco pro mundo que me resta desmoronar, mas eu vou correr atrás. Eu não me importo que eu já tenha caído, eu vou rastejar em sua direção. Eu só preciso que você me deixe tentar. Eu não quero te convencer do quanto estou arrependida, eu só quero que você se lembre das vezes em que eu disse que te amava, porque nunca foi mentira. Foi com você que eu aprendi a olhar nos olhos, a chorar sem medo e a sorrir também. E eu já não tenho forças pra manter qualquer sorriso no meu rosto agora que estou sem você. Apenas me diga que tudo vai ficar bem. Eu não quero perder o resto que eu tenho de você, se é que tenho ainda um pouco. E agora eu só acordo toda manhã porque eu sei que tenho um coração pra cuidar, pra reconquistar. Eu sei o tanto que o quebrei e eu daria meu coração inteiro em troca de um pequeno pedaço do seu. E mesmo caída eu continuo caindo, desmoronando. Mesmo sem vida eu continuo sonhando. Sonhando com o passado e com o futuro, pois a realidade do presente já não me agrada. Eu sei que eu aprendi mais cedo que você: "quem gosta menos sofre menos", mas eu nunca usei isso, eu nunca gostei menos e nunca quis gostar menos. Muito menos pensei na possibilidadede sofrer estando com você. Você também não gostou menos,nós gostamos num mesmo nível, o nível mais elevado que poderíamos. O mundo sempre esteve em segundo plano. Eu vivia em função de você, até os fogos estourarem nos meus olhos e me cegarem enquanto o ano mudava. Agora estamos sofrendo num mesmo nível. Quem gosta menos realmente sofre menos, mas não é o nosso caso. Sempre estivemos em equilíbrio. Equilíbrio físico, equilíbrio espiritual, equilíbrio nos olhares. Soubemos controlar, soubemos brigar e nos reconciliar.Soubemos dizer "te amo" na hora certa e soubemos, acima de tudo, amar. E eu ainda não desaprendi e não quero desaprender. Eu prefiro dormir pra sempre na esperança de sonhar eternamente com você, do que continuar em vida sabendo que você não vai me perdoar. Eu errei e eu farei de tudo pra consertar. Desculpa ter esperado demais. Falta pouco pro mundo que me resta desmoronar.. Não deixe isso acontecer, pois o resto do meu mundo é você. E eu vou correr atrás..

(Estela Seccatto)

7 de abril de 2010

Pedi uma palavra..

..me deram frustração.

A velha boneca sorridente não sorria mais - implorava pra menina ficar mais um dia para brincarem novamente. Os livros e cadernos empoeirados achavam um absurdo ela não os levarem para junto com ela sendo que, naquele momento, o que ela mais precisava era de palavras. O cobertor e o travesseiro permaneceram quietos e enrolados - não teriam quem os esquentasse nos dias frios. Os retratos, os enfeites, as mínimas coisas estavam tristes pois não teriam quem as mudassem de lugar. Mas a felicidade dos objetos se fez com apenas uma frase:

-Essa semana eu volto pra pegar minhas coisas.

Não obtivera resposta, provavelmente ninguém a ouviu. Foi até a sala e caminhou em direção à porta. Olhou para os olhos que há tempos não olhava, mas que conviveu por anos. E mesmo depois de tantos anos, eram apenas desconhecidos.

-Eu só queria que vocês se importassem. -Disse a garota.
-Isso a gente não escolhe.

Então a mãe desviou o olhar e o pai abriu a porta. A menina, com a mochila nas costas, olhou em volta se despedindo de sua história. Era um passado inteiro naquela casa. Precisava de um lar sem preconceitos..

5 de abril de 2010

Outra pessoa.


Olhando fixamente para outra pessoa, a menina pensava: "O que será que aconteceu? Porque será que ela chora tanto?" ..E ficava planejando uma forma de abordar a menina triste. Queria encontrar um modo sutil de oferecer ajuda sem demonstrar pena. Ela não estava com pena, ela só não gostava de ver tanta dor. Mas, cada uma de um lado do edifício, separadas por um vidro, não podiam ao menos se ouvir. E as pessoas encaravam a menina estranhamente, dificultando mais ainda todos aqueles pensamentos. "Eu preciso chegar até ela, ninguém me entende."..E as crianças fitavam a menina curiosa e sussurravam para os pais alguma dúvida inquieta. E os senhores de idade olhavam preocupados e tentavam disfarçar. As mentes mais cruéis mexiam a boca claramente: "deve ser louca". Será que só ela se importava com a menina que chorava? As pessoas estavam mais preocupadas com uma menina curiosa do que com uma menina que esbanjava dor em lágrimas? Aquela menina lá fora precisava de alguém para abraçá-la, precisava de um amigo. E a menina curiosa do outro lado se perguntava: "onde estão seus amigos?". E a cada pessoa que passava direto por ela apenas mostrava não haver resposta. Como era possível uma menina tão sozinha aquela hora na rua.. naquele frio? Como era possível ninguém notá-la ali? Apenas a menina de dentro do edifício a tinha percebido? Esse mundo está regredindo, não existe uma evolução visível. Um homem saiu do elevador, distraindo os pensamentos da menina curiosa. Deu boa noite e abriu a porta de vidro, colocando o pé pra fora dali. A menina que chorava não estava mais ali. Como ela poderia ter ido embora tão rápido? A porta então fechou na lentidão natural e a menina voltou, juntamente com sua dor e solidão.

Era seu reflexo que tanto chorava.