4 de março de 2010

Céu nublado, nada errado.

Céu nublado, tudo molhado. Nada errado desse lado, nada errado do outro lado. Árvore triste pensando nas folhas que acabavam de cair. Folhas tristes gritando "sou livre, e daí?". Estavam secas, estavam morrendo, desapareceriam enquanto outras estavam aparecendo. Banco úmido e encardido. Sozinho, perdido. Nenhum outro banco amigo. Era sempre disputado, nunca havia descansado. Não num dia de sol. Nos dias chuvosos observava de longe as crianças no farol. Pensava: "criança que não brinca não tem infância. Crianças, crianças.. Quando crescerem quais serão suas lembranças?". E a grama tão pisada e mal-tratada já estava cansada de tanta humilhação. Porque aquela gente desrespeitava o aviso e pisava nela ao invés do chão? A flor, com tanta cor, podia sorrir, mas só sentia dor. Dor da solidão. Não haviam mais flores no seu alcance de visão. Estavam escondidas ou jogadas por aí. Mesmo com tanta beleza, se enchiam de tristeza por não terem com quem sorrir. Alguns passarinhos no ninho acabavam de nascer. Esperavam pelo alimento que a mãe vinha-lhes trazer. Conversavam entre si, trocavam opiniões. Dizia um deles: "viemos nesse mundo pra que? Só vejo desilusões.". As pedras formavam um caminho e conversavam baixinho sobre voar. "Hoje estou aqui porque uma criança me jogou. Voei. Mas eu sempre fui do lado de lá.". Céu nublado, nada errado. Nada era engraçado, porém tudo tinha sua graça. Eu pertencia àquela praça.

(Estela Seccatto)

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