9 de agosto de 2010

Give me your opinion.

"A: Inveja porque as outras pessoas podem te abraçar e morder e eu não.
B: Eu só quero a sua mordida.
A: Eu só quero você.
B: Vem dormir comigo hoje?
A: Só hoje? Não pode ser pra sempre?
B: É que era um plano maligno.. você ia vir, achando que era só hoje, e eu ia te roubar pra mim.
A: Eu aceito ser sua refém.
B: E se o mundo te quiser de volta? A gente pode se esconder debaixo do cobertor?
A: Vamos trancar até a porta do quarto pra ter certeza de que eu vou ficar com você."

-E então? O que achou?
Os olhos percorreram as palavras por mais alguns minutos e olharam novamente em minha direção. A respiração foi profunda e as mãos finalmente deixavam o livro. Nenhuma expressão, nenhum sorriso e nenhum semblante de desgosto. Acendeu o cigarro, andou até a janela e ficou olhando o céu, o trânsito, as pessoas.. Na mínima intimidade que podíamos ter, me dei o direito de ir ao seu lado. Eu esperava uma resposta. Fiquei olhando as mesmas coisas que aquele olhar cansado olhava. Me deliciei por alguns minutos da paisagem urbana. Fazia tempo que eu não olhava por uma janela. Ele deu um trago no cigarro e me ofereceu. Dei um trago e o devolvi, não queria abusar. Soltou a fumaça e falou, olhando pra uma nuvem qualquer:
-Isso não é um livro, não é história, não é um conto.
Tanto mistério pra não dar nem um pouco de valor pro meu esforço? Escrevi tudo isso pra nada? Eu não estava indo no caminho certo? Eu só queria a aprovação daquele grande mestre da literatura, mas que diabos! O fato é que eu queria quebrar tudo, sair e bater a porta. Chamar ele de ignorante. Mas eu sabia que ele não era ignorante. Minha história que devia estar ruim mesmo. Ele se virou, andou até a mesa, pegou o rascunho do meu livro e o esticou pra mim na intenção de me devolver. E assim o fez. Peguei as folhas, caminhei até a porta sem dizer nada. Faltava pouco pra porta se fechar quando eu ouvi:
-Pra mim isso é amor.
Virei o rosto e o vi sorrindo. Sorriso de gente experiente. Ele arrumou os óculos e eu sorri de volta. Sai daquela sala com um só pensamento: "É, isso é amor".



(Estela Seccatto)

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