26 de março de 2018

Indecisa

As pessoas costumam falar que eu sou indecisa.
E eu sou.
Eu não sei escolher entre fast food ou hamburgueria artesanal.
Eu não sei se quero sair ou beber em casa.
Eu não sei se vou de shorts ou calça.
Eu não sei se sou carente ou desapegada.
Eu não sei nem minha cor preferida.

Mas eu não preciso saber.

Eu percebi que as únicas decisões que eu tomo são as que realmente importam.
Eu escolhi minha faculdade.
Eu escolhi me esforçar pra chegar em algum lugar.
Eu escolhi aceitar um emprego que tinha tudo pra me fazer surtar de ansiedade (e fez).
Eu escolhi o momento no qual eu ia desistir das coisas.
Eu escolhi falar uma das coisas mais difíceis de se falar pra alguém em estado terminal.
Eu escolhi até que ponto valia a pena insistir em algo.

E isso eu precisava fazer.

Todas as coisas importantes da minha vida eu quis decidir sozinha.
Eu quis decidir sozinha pra não poder culpar ninguém depois.
Pra acreditar que eu posso tomar decisões certas.
Pra acreditar que se elas forem erradas eu vou aprender e tirar algo bom disso.
Eu quis decidir sozinha pra confiar mais em mim.

E, caralho, eu tô me tornando uma pessoa que me deixa bem feliz.

21 de março de 2018

Desgraçada!

Se você é mulher cê já não é mais nada
além de puta, ingrata, desgraçada!
O seu lugar não é aqui
Cala a boca e começa a ouvir
exatas palavras que cê já gritou
Sua voz é tão baixa, ninguém quer saber
Me deixa explicar sobre você
e sobre coisas que nunca passei
Sobre como cê é frágil e necessita proteção
de coisas que o mundo preparou só pra mim
NÃO!
Não adianta dizer não!
Não me interessa.
Se apressa que eu tô logo atrás!
Não implora, eu não te escuto
Desse beco escuro cê não esquece mais

Se você é mulher cê já não é mais nada
Será que dá pra entender?
Você é burra ou o quê?
Olha pra mim, eu sou um santo
Abre a boca que eu te espanco
Tenta me acusar: cê leva na cara outra vez
Apanha uma, duas, três...
Até perder a sensatez
Vou te chamar de louca e todos vão ouvir
Sua voz vai ficar rouca de tanto implorar
E tudo o que cê vai escutar é que cê é mulher que gosta de apanhar
Mulher de malandro!
Por que não separa?
Mulher que se dá ao respeito é coisa rara!

Para! Cansei!
Você não pode me entregar
Chegou a hora de te largar num canto pra sangrar
Quem vai ligar? Em qual jornal que vai passar?
Não importa seu nome, sua história ou sua idade,
cê é só mais um cadáver da sociedade.
É só mais um corpo sem voz largado na calçada.

Talvez você mereça.
Infeliz! Mal amada!
Espero que você nunca se esqueça:
Se você é mulher cê já não é mais nada.

(Estela Seccatto)