Estive por aí

Há tempos procurei em mim mesma alguma explicação pra falta de cor por dentro. A vontade de uma vida trabalhada no preto e no branco me agradou por dias e meses. As noites tomavam como base a cafeína. Eu não dormia. Eu não comia. Eu não piscava. Noite e dia. Ia pra sacada do quinto andar e assistia o sol nascer. Achava feio. Olhava lá pra baixo e imaginava o tamanho da dor que seria cair de lá. Era pouca, era uma opção em mente. Mas ela acordava e me chamava pro sofá. Ela me contava histórias da vida e ela me fazia esquecer um pouco da minha. Eu até sorria. Mas quando a verdade é jogada na cara você começa a pensar no quão tosco é ser assim. "Começo de depressão". Não! Eu não queria ser assim. Eu queria me encontrar, eu queria sorrir mais. Foi nela que eu encontrei forças. Meus olhos se fecharam e eu sonhava durante as noites. O nascer do sol é a coisa mais linda. Estive por aí e ninguém me viu passar, mas agora faço questão de gritar. Faço questão de sorrir e fazer minha vida brilhar. Ela se foi em corpo e não voltará. Mas a alma me rodeia, me sussurra pra eu continuar. O brilho que reflete em mim é todo dela e, assim, nada me faltará.

(Estela Seccatto)

Álcool.

Nós sempre superamos. Pessoas se vão, coisas ganham e perdem a graça, o amor se transforma em nada. Então voltamos a sorrir, enchemos nosso peito pra dizer "eu superei". Todo mundo supera. Mas o álcool, tão amigo, me foi inimigo. Não sei em que momento parei de fumar e dormi. Não sei como fui capaz de apagar meu cigarro. Sei que acordei meio tonta e foi difícil abrir os olhos. Ao lado da cama tinha o cinzeiro, uma caneta e um caderno. Por que eu ainda escrevo pra você? Olha só quanto tempo que se passou, olha só o tanto que você me machucou. Olha pra mim. Às vezes eu me pergunto se o que eu sinto é raiva ou dor. Saudade ou amor. Acho que não passa de egoísmo. Cheguei a me assustar com meus próprios pensamentos. Pensei: "tá me doendo há 1 ano mas ela não sentiu dor por sequer 1 minuto". Eu te desejei dor. Até que ponto eu fui? Mas passou. Então será que é só medo de largar o sentimento porque, pra mim, era confortável te ter? Por que diabos meu coração não dispara por mais ninguém? Por que eu não faço como você e sigo minha vida? Amor, por que eu ainda penso em você? Mas tá tudo bem. Já passou. Hoje eu não bebi e o caderno tá jogado longe de mim. Pessoas se vão. E ah, elas nem dão tchau..

(Estela Seccatto)

Coringa.

Sua ira, tão aparente, cria em ti uma alegria tão doente que se esconde longe com medo de aparecer. Sua expressão tão raivosa, crua em ti, é tão tranquila e orgulhosa que só responde aos abraços de quem sabe te desprender. Mas há um sorriso que diz baixinho que a vida vai além. Há um 'tomar no cu' que diz que a Ju tá sempre bem. E encontra na dor que sente a semente que não se atrasa ao florescer. Então sorri, paradoxalmente, dizendo que a vida é intensa demais pra se perder. Vive perdidamente, sabendo que a dor é boba demais pra se sofrer. E tudo, sem exceções, cria borrões pra te fazer aprender.. Um sorriso e uma cerveja são maiores que qualquer tristeza que possa aparecer.
Quando se fere e se zanga traz sempre uma carta na manga.
E ela, coringa, tão carta mágica, xinga mas não choraminga.
Faz pose e peita o problema, me pede um poema e é só texto o que sai. Cheio de rima que até desanima de ler. Mas eu insisto e fico em cima só pra ver se você se aproxima outra vez pra me fazer beber e escrever..

(Estela Seccatto)

N.F.

Eu ao menos te conheço e sua dor dói em mim. Seu olhar, tão grande, estava vazio. Seu sorriso não era feliz, era só pra esconder e eu ao menos soube o porque. Essa pose toda enorme que você faz só é uma tentativa de disfarçar a ferida. Todo esse ar de superação que você mostra respirar não passa de poluição de tudo que vem a te machucar. Então faz o que diz, põe um sorriso na cara e seja feliz. Tudo pesa, tudo esmaga, tudo rasga e te sufoca.. mas você é forte e sabe ser linda quando quer. Então deixa essa beleza tomar conta de você e faz sua boca se mexer e lá criar uma expressão sincera. Deixa, antes, toda lágrima cair e não tente esconder isso de quem quiser te ver sorrir. E grita pro mundo que machuca pra caralho e que você tá destruída! Grita que você caiu e não consegue se erguer. Grita pro mundo que essa porra toda dói e que você não merece isso! Atinja o universo com sua dor. Então você se levanta, lava o rosto e supera. Se apóia em mim. E, por favor, deixa de lado esse olhar vazio. Abra os olhos e deixa eles brilharem.. como quando eu te conheci.

(Estela Seccatto)

Ser triste é tosco.

Tristeza é um sentimento tosco. Bem tosco. Por que alguém é triste? Quero dizer, há uma diferença bem grande em estar triste e ser triste. Estar triste não é tão tosco. Existem situações chatas, existem perdas e existem pessoas que vão te machucar e te deixar triste. Mas o normal é a tristeza passar. Por que? Porque tristeza é tosco. O problema é que eu venho me sentindo tosca ultimamente. Justo eu, a menina que sorria só de ver alguém feliz. Por que eu? Sério. Eu gosto da vida, eu não faço drama, eu não ligo se me machucam ou não. Eu tento, ao máximo, não machucar ninguém. Então por que eu, porra? Me olho no espelho, bem nos olhos, por uns 10 minutos e percebo que aquela imagem é um ser desconhecido que eu não consigo entender. Parece uma estranha total, meio vazia, com um nó na garganta e uma vontade de gritar. Eu choro e me pergunto de novo: por que eu? Eu amo meus amigos e minha família, eu tenho as melhores pessoas do meu lado, eu tenho uma vida que não me dá motivos pra reclamar e/ou ser triste.. Do nada, simplesmente do além, eu acordo triste, sem a mínima vontade de sorrir. Isso tem algum nome? Acumulou coisa que eu não to sabendo? É por causa do amor antigo? É por causa de doença? Eu já superei tudo isso, sério. Por que diabos eu acordei triste? Tristeza é uma coisa tosca. Por que eu to acordando tão tosca ultimamente?

(Estela Seccatto)

Texto espontâneo

Dói, dá medo, tô triste. Queria te mandar pro inferno mas to implorando pra cada palavra de amor que você diz chegar em mim. Mas não chega. Eu digito pra você daí apago e clico no X. Se o X fosse pessoa eu mandaria flores pra ele por todas as vezes que ele me salvou. Ele teria um jardim inteiro. Minha família tá uma bosta também, mas isso chegou a ser normal. Ah, tá doendo minhas costas.. Pra caralho, pra caralho MESMO. E a faculdade tá me estressando. Eu quero chorar, ganhei 1kg e, se antes eu já chorava por estar gorda, agora tenho vontade de vomitar 1 órgão fora só pra ver se emagreço. Parece que comer salada engorda.. Ou minha tendência de ser gorda é insistente demais. Mais do que eu. Mas eu sou teimosa, quero ver quem vai ganhar. Poderia vomitar toda vez que te vejo amando também. Seria bom pra mim e você ao menos saberia.. Quero te evitar. Quero evitar a outra lá também que diz uma coisa e depois nada foi dito. Essa bosta tá confusa, foda-se. Eu queria só que essa dor parasse e que meu sono viesse a noite e não durante o dia. Quero uma cerveja mas não quero engordar com uma cerveja. Nem engordar com 15 cervejas. Eu quero uma cerveja que não engorde. E quero um amor que não machuque. É. Um amor que não engorde e uma cerveja que cure. Eu quero meu coração meio livre. Mas minha cabeça explode e bombeia tudo pra ele, tá foda. Eu quero fazer tratamento por causa do meu medo de barata. Comecei a querer isso depois que chorei 15 minutos seguidos soluçando desesperada por causa de uma.. E to sonhando há uns 3 dias com esse demônio. É. Eu quero cerveja, amor e a morte de todas as baratas. Eu queria você também mas não acho que quero mais. Ou quero. Não sei. Você me confunde. Quando eu to distraída me fodendo de tanto trabalho da faculdade eu nem penso na sua existência. Quando eu acho que to livre pra descansar você dá trabalho pro meu coração. Acho que ninguém vai ser livre totalmente. Ou todo mundo vai. Um dia quem sabe. Agora, bem agora, o que eu mais quero é um remédio forte pra dor. Porque os de antes não tão funcionando mais. É. Fim. Quero um remédio e quero mandar você pro inferno. Mas, se for pro inferno, me leva. Eu acho que quero você.

Apague os passos da estrada.

Preferiria que você tivesse feito igual à ela. Vai, que ainda dá tempo. Ausência acaba deixando a dúvida. Será que de longe ela pensa em mim? Sua presença e indiferença me desgastam. Por que não some? Faz igual, repete o erro de outro alguém. Deus perdoa, amor! Fica uns 3 anos longe, facilita o esquecimento. E não volta, não se atreva a chegar perto de mim. Corre pra bem longe, bem mais longe do que a distância física. Corre pra longe do meu pensamento e da minha mente, se arranca do meu coração. Mas deixa ele aqui pra eu amar outra vez. Deixa ele aqui pra eu amar alguém que não vai fugir e nem ficar pra me assombrar. Deixa meu coração pra eu poder amar alguém que mereça tudo o que eu sinto, no momento, por você. Se esconda num canto que nenhuma parte de mim alcance.. E, amor, não ousa sair de lá nem pra tomar um ar.

"Me mostra tua coragem. Vai, leve tudo de mim."

(Estela Seccatto) 

Drama.

Me dói no coração tanto drama sem razão. Tristeza é aceitável, depressão é lamentável. Quem é que disse que temos o direito de reclamar da vida? Temos o prazer de saber o que é vida! Se o amor acaba, a vida continua. Se o corpo enfraquece, a mente fortalece. E por aí tem gente que acha que nunca mais vai ser feliz. É muito drama, é muito exagero, é muita tristeza por nada. Que custa sorrir? Chorar dá tanto trabalho e as pessoas são profissionais no ato. Sorrir deveria ser visto como algo mais fácil. Cansei de ver gente saudável resmungando pelos cantos e gente em hospital rindo de uma ocasião qualquer. Cansei de ver morador de rua agradecendo por estar vivo e por conseguir comer um pão durante o dia e outros sentados em cadeira de ouro reclamando do tempero da comida. Cansei de ver gente sem família subindo na vida, sorrindo pros amigos e correndo atrás dos sonhos enquanto outros brigam com amigos por causa de namoro e nem ao menos sonham. Eu cansei de gente que não sabe ver a porra do lado bom! Eu cansei de gente que inventa problema em coisa fútil. Brincadeiras são levadas à sério. Inveja não é mais ignorada. Ódio é cultivado e retribuído. Será que custa muito ignorar toda essa energia ruim e tornar a própria vida em algo bom? Afinal, nossa vida é única. Nossa vida é uma só.
Não quero um dia olhar pra trás e ver que poderia ter sorrido mais.

(Estela Seccatto)

Falando sobre nome..

Eu poderia jurar que, em mim, você é passado. Totalmente passado. Mas as vezes me pego pensando.. Eu acho que tem algo no seu nome que me faz acreditar que um dia, quem sabe, um pedaço dele fará parte do meu.Ah, eu sei lá! Encaixa tão bem.. Só não sei se seus lábios se encaixam também. Só não sei se sua cabeça se encaixa no meu ombro. Não sei nem se nosso abraço se encaixa! As vezes nem vai dar certo. As vezes é só o sobrenome mesmo..

Mínima

A vida é mínima.
Milhares de coisas novas surgem a cada dia e milhares de coisas nunca deixarão de ser apenas uma vontade. Fazemos listas e planos do que queremos cumprir ao decorrer do tempo e, nesse tempo, a lista só aumenta. Pular de paraquedas, acampar com os amigos, viajar pela Europa, fazer sexo no banheiro do avião.. Mas e aí? Quando é que isso passará do papel pra realidade?
A vida não anda, a vida corre. Todo dia tanta gente morre.. E não há tempo a se perder. Não existe tempo pra ser triste. Um choro as vezes faz bem, sim, mas logo após deve chegar um sorriso.. O maior que existir! E quando olhamos janela afora percebemos o mundo tão superficialmente. Mal pensamos que, logo ali, na casa ao lado, família vive entre brigas e reconciliações. Na rua lá da frente um casal se encontra escondido. No bar da esquina senhores desabafam sobre como a vida passou rápido. E você ali, generalizando o bloco de prédios e luzes, colocando tudo numa coisa só.
Não, eu não aceito quem me diz que não tem motivo pra sorrir. Muitas pessoas estão morrendo agora e nenhuma delas é você. Cada pequeno segundo vivo deveria ser um prazer pra todo mundo. Cada inspiração deveria ser um suspiro. Cada expressão deveria ser um sorriso. Morrer deixa saudade.. Morrer triste dá pena. E aí você escolhe o que falarão no seu famoso velório: "Coitado, andava tão pra baixo.." ou "Vai deixar saudades, era tão alegre". Ah, eu não quero ser coitada não, quero deixar a marca da minha felicidade em cada pessoa que passar por mim.
A vida é mínima mas eu farei da minha algo gigante.

"..Mas louco é quem me diz que não é feliz."

(Estela Seccatto)

Sonho.

Eu liguei pro seu celular (você tá moderna, né?) e outra pessoa atendeu dizendo que você não podia falar naquela hora. Decidi ir lá pra Jundiaí te fazer uma surpresa porque você tava demorando demais pra voltar de viagem. Passei em frente a casa e, pela janela, te observei. Estava fazendo as unhas como sempre. Dessa vez não era esmalte vermelho, era tudo colorido e com desenhos. Fiquei esperando você me olhar, mas você ao menos se virou em direção à janela. Quando acabou de fazer a unha, se levantou e eu fui até a porta, que estava aberta. Sorri pra você e você sorriu pra mim. Exatamente aquele sorriso que eu amo. Eu te abracei e nós choramos. Não conseguia esconder a saudade que eu tava. Doeu no peito, me faltou o ar, eu solucei de tanto chorar. Mas me diz se tem algo melhor do que chorar de felicidade? Te olhei nos olhos, acariciei seu rosto e limpei a lágrima que escorria lentamente. Você me disse baixinho "que bom que você veio" e eu te abracei novamente.
Ah, se eu pudesse dormir eternamente e sonhar esse mesmo sonho repetidamente.. Só eu sei como eu sinto falta do seu abraço.

Bagunçar

Pessoas são confusas querendo ser simples e essa deve ser a imagem que eu passo. A confusão se tornou tão comum que, quando você abre o jogo e é sincera, é interpretado como alguém complicada. Ei, amor, meu coração é simples, meu coração ta livre, meu coração respira tão bem.. O que você quiser, tá feito. Quer aparecer um dia dizendo loucuras de amor? Aparece, eu vou amar. Quer chegar com outro alguém na minha frente? Não vou ligar. Eu só quero sentar, tomar uma cerveja fumando um cigarro e conversar. Apenas ter por perto coisas me trazem algo bom. Só não vem mudar comigo, só não tenta me bagunçar. Já sou bagunça toda torta, mas dentro de mim eu sei me achar.

(Estela Seccatto)

Sempre assim

Ah, ela vai e ela vem. Ela é um vai-e-vem de sentimentos. E eles borbulham dentro, explodem, cessam e entra o ar. Mas vêm de novo, gritam, apertam e sufocam. E outra vez eles cessarão. E o coração tem poucas pausas pra descanso, mas ela se sente perfeitamente descansada. Vai ser sempre assim: ela vai amar os que desprezam e ser amada por quem ela não quer. Ela vai te ignorar. Vai soltar a fumaça do cigarro velho no seu rosto e vai sorrir. Mas pra que preocupação se, na hora de pegar bebida, ela tocará na sua mão? E ela vai gritar pro mundo sua imensa carência e vai recusar seu abraço. Justo o seu abraço. Se soubesse o erro que é amá-la, não o cometeria tão visivelmente. Talvez querer de longe, talvez gostar um pouco, talvez algo platônico. Mas amar? Não. Não faça isso. Jamais encoste na alma dela. E aí, quando conseguir esquecê-la e encontrar um novo amor, talvez ela venha. Porque ela vai e vem com seu vai-e-vem de sentimentos. Aqueles que explodem, gritam, destroem, machucam, sufocam, angustiam e cessam. Ela vai e vem com os sentimentos que vão e vêm.

(Estela Seccatto)

she plays with me

Ela chega perto e eu paro de respirar. Ela sorri, me olha e consegue me matar. Ela sai do banho de toalha pra me provocar. Ela disfarça e me chama pra me beijar. Me arrepia, me angustia, me tira o ar. Eu tremo com o sorriso dela e com a cara que ela faz de quem nem pensa em se importar. E ela se importa, ela me abraça, ela sabe ser meu lar. Ela dorme como um anjo e fala tanta coisa boba.. Aí me encosta na parede como nada angelical, fico no controle dela sem ela ao menos perceber. Pra mim já basta olhá-la de longe. Chega a ser engraçado observar como todos a olham quando passa com aquele salto e aquele olhar.
E ela brinca com todos meus pensamentos e me faz enlouquecer. Ela brinca comigo e esse jogo só me mata. Meu coração dispara e ela não para. Eu perco os sentidos e ela acha graça. Engraçado não ter ar..


(Estela Seccatto)

"..e você me olhou tão diferente..

..e tão descrente de emoção."


Me pergunto, antes de dormir, se você um dia vai olhar pra trás e se arrepender. Se um dia você vai tentar voltar. Se um dia você vai se perguntar "e se eu não tivesse desistido?". Se você se perguntar isso algum dia da sua vida eu vou deixar a resposta aqui.


Como teria sido?


Nós teríamos crescido igual sempre estivemos crescendo. Nos falaríamos toda noite e faríamos planos sobre a nossa futura casa. Aquela velha briga sobre a cor da parede e sobre nosso animal de estimação. Eu dormiria feliz por ter ouvido seu 'te amo' no final da ligação. Você dormiria feliz porque seu amor seria real. O tempo passaria e tudo isso iria apenas crescer e nos encher a alma. Eu trabalharia e juntaria dinheiro pra te ver, minha tatuagem do Cheshire Cat ficaria em segundo plano. Eu iria passar horas e horas dentro de um ônibus porque não teria dinheiro pra ir de avião. Você me buscaria na rodoviária ou me encontraria em algum lugar fácil de ir. Nos olharíamos de longe sentindo o coração pulsar, quase saindo pela garganta. Me daria vontade de chorar mas eu não choraria. Eu ao menos respiraria. Seu sorriso se aproximaria e minhas pernas enfraqueceriam. Abriria meus braços e te sentiria pela primeira vez. Eu morreria de amores, amor. Eu finalmente veria seus olhos de perto e bagunçaria seu cabelo. Ah, o seu cabelo, como eu amo seu cabelo.. Eu te encheria de beijos pelo pescoço e eu não soltaria sua mão de forma alguma. É, eu te faria comer sorvete de mamão. Beberíamos juntas, dormiríamos juntas e comeríamos muito Mc Donalds juntas. Engordaríamos juntas. É, seríamos gordinhas até o momento em que quiséssemos emagrecer. Emagreceríamos juntas também. E depois de alguns dias eu iria embora com a promessa de que voltaria. Um dia eu prometi nunca te deixar e minha promessa não foi em vão. Nos veríamos de novo e de novo. A cada dia eu te amaria mais.. E sempre foi assim: eu te amando mais. 
Engraçado inventar história.
Poderia fazer um livro sobre o futuro que você não deixou acontecer.

(Estela Seccatto)

"Eu to feliz por você, de verdade. Feliz por ver o quanto você mudou. Quando eu te conheci você sempre tava com garrafa de bebida na mão, ficava caindo pela calçada e pegando todo mundo sem nem se importar com ninguém. Você sempre dava PT. Você sempre vinha falar comigo e bebia pra caralho do meu conhaque. Hoje eu te ofereci conhaque e você simplesmente recusou com um 'obrigada' no final. Esse rolê já influenciou muita gente, inclusive você Mas você viu o que tava acontecendo e tomou sua própria atitude, não quis mais. Você não tem noção de como eu to feliz por ver você aqui sentada, sóbria e sem ter ficado com ninguém a noite inteira. Desde Estela lixo que eu conheci até Estela agora, você sempre pode contar comigo. Eu vou estar aqui." (Cirto)

Isso fez minha noite.

Ei, alguém tá me lendo?

Alguém aí tá me lendo? Qualquer um pra me ouvir.
Queria dizer que eu to cansada, que o coração já não tem mais sede, não. Perdi o fôlego pro amor, perdi o ânimo de me apegar. Toda aquela calma de beber, gritar, pular e esquecer não me agrada mais. Nem toda aquela loucura quando o sentimento invade. Nem agitação e nem tranquilidade. Minha mente pede cama, meu corpo pede álcool e meu coração pede colo. E quem me oferece colo não é dono do colo que eu preciso. Tem gente que fica em volta, tem gente que acha que tá na hora e tem gente que já foi embora. Muita gente foi embora e nenhuma com a intenção de voltar. Mas ah, tudo bem, a vida já avisou que as pessoas foram feitas apenas pra marcar e não ficar. Só não entendo quando a alma vai embora e o corpo fica, é meio contrário do comum. E a presença fica lá só pra te incomodar e te gritar 'estou aqui mas estou longe de você'. Quem é que liga, se tudo passa? Quem é que diz que no futuro não vai ter graça? Por enquanto desgasta e dói. O futuro é o que, na mente, menos me passa..
Amigo, as pessoas tão me machucando e to cansada de doer.

(Estela Seccatto)

Desgaste.

Ficar doente é uma bosta. Você pega um resfriado e não quer sair, seu corpo fica mole, o desânimo aumenta e bla bla blá. Você sente qualquer dor e são os mesmo bla bla blá's. Mas passa. Vai na farmácia, compra uma daquelas pílulas milagrosas (não, não é benflogin) e em uma semana você tá melhor. Imagina ficar doente por anos?

Câncer.

Já não desgastou demais? Câncer dá cansaço, não tem pílula milagrosa pro câncer. Não dá pra ir na farmácia e pedir um xarope pra câncer. Simplesmente não dá. Dá pra operar, tratar e pode até ir embora, mas e quando não vai? E quando passam mais de 6 anos e aparece mais tumor? E quando aumenta o tumor que já tinha? E quando seu corpo fraqueja e não suporta mais receber quimioterapia? Ninguém vai achar a cura, não? Já tá na hora. Já passou da hora. Gripe passa tão fácil e toda semana surge um novo remédio mais potente pra gripe.

Câncer não pode ser chamado de doença. 'Doença' é uma palavra muito pequena pro câncer. Câncer é filha da putisse, câncer é do caralho, câncer é desgaste físico e psicológico.

E apesar disso eu sei, como sempre soube, que haverá melhora.

"Você tem apenas 6 meses de vida" foi dito há tanto tempo.

Você é um milagre. Meu milagre.

(Estela Seccatto)

Promessa.

Hoje me peguei fazendo planos pro futuro e você estava nele.. outra vez. Engraçado né? Tudo acabou e eu continuo imaginando como vai ser quando eu te conhecer. Eu continuo sonhando como deve ser bom brincar com seu cabelo e te roubar selinhos. É, parece que eu parei no tempo, parece que eu alimento o que sinto e esqueço que você não está mais aqui. Parece que eu vivo uma mentira porque a realidade me machuca de um jeito que eu não consigo aceitar. Eu sei que, se houvesse a possibilidade de você voltar, eu não ia querer. Eu teria medo de te ter outra vez. Mas eu me fecho no tempo em que tudo era perfeito pra nós. Aquele tempo em que sua voz me tranquilizava ao invés de me assombrar.

Eu ainda te amo, mas eu prometi pra mim mesma que isso vai passar.

(Estela Seccatto)

Foi só um sonho..

Estávamos num bar e você me pediu pra te acompanhar pra comprar cigarro. Saímos e eu disse:

-Acho que é melhor comprar no posto, a padaria deve estar fechada.

-Eu já tenho cigarro.

-Ué, então porque a gente saiu de lá?

-Desculpa.

Você colocou as mãos no meu pescoço e se aproximou. Minhas mãos deslizavam por sua cintura. Quando um beijo estava a ponto de acontecer, alguma força nos parou e a cena foi andando pra trás. como se aquilo fosse um filme e alguém estivesse voltando um pedaço dele. A cada vez que a cena se repetia minha vontade de te ter aumentava.

Você colocou as mãos no meu pescoço e se aproximou. Minhas mãos seguravam sua cintura.

Você colocou as mãos no meu pescoço e eu me aproximei. Meus braços envolviam sua cintura.

Você colocou as mãos no meu pescoço e eu te puxava pela cintura.

O desespero aumentava, a vontade me angustiava. Eu queria te ter e não conseguia.

A cena voltou um pouco a mais.

-Acho que é melhor comprar no posto, a padaria deve estar fechada.

-Também acho.

Fomos andando em direção ao posto. Na minha mente eu sabia tudo o que nos impediu de ficarmos juntas. Eu queria e precisava de você. Na sua mente você só precisava de um cigarro..

(Estela Seccatto)

Apenas eu.

Sabe aquela história de otimismo e ver tudo pelo lado bom? Então, deixei de lado sem querer e preciso retomar. Preciso sair e me distrair com as coisas simples que sempre me distraíram. No momento não estou pessimista, realista ou otimista. Estou apenas eu. Eu diante dos sentimentos, dos problemas e das preocupações. Arrumar emprego é difícil; lidar com uma doença é complicado; coração machucado incomoda e começar uma vida nova, fora da rotina, é perturbador. Poderia dizer, copiando a música, que estou à seis passos do abismo e, talvez, seis passos não sejam tão distantes. Mas sou forte o suficiente pra não dar esses seis passos pro lado errado. Se tiver que dar qualquer passo ele será em busca de algo que me faça bem. Estou tentando deixar de lado o que machuca, mas não consigo deixar de lado o que machuca à quem eu amo. Tem algo me levando à loucura, tem algo explodindo em mim, tem uma alma inquieta aqui dentro. Tem uma abraço esperando outro abraço. Tem lágrimas, tem gritos e tem desespero. Preciso de uma saída e, sem querer assustar, preciso urgentemente.

(Estela Seccatto)

Eu não te superei.

Eu amo falar com você, rir com você, desabafar com você. Eu amo saber sobre sua vida. Eu amo a sua voz. Mas dói, me faz tremer, me dá angústia, medo. Medo porque sei que ouvir uma voz pela qual eu sempre fui apaixonada não vai ser algo que me ajude a te esquecer.

Amor, te quero perto mas te quero longe. Essa distância entre nós vem me ajudado tanto.. E eu, que tanto reclamava, to agradecendo por você não morar perto de mim. O que seria da minha dor se eu te visse todos os dias? Seria mais do que dor.. Eu não tenho mais ânimo pra escrever no blog, escrever música, sair pra me divertir. É, parece que aquelas palavras que ouvi há meses estão me servindo pra agora. 'Você não sai e bebe pra se divertir, você faz isso pra esquecer'. Ele estava certo e, se me falasse agora, estaria certo outra vez. Se você soubesse o que me causou, você entraria nessa minha confusão. Eu estou ficando louca sem saber se te quero perto ou longe. Te ter distante me faz querer morrer, te ter perto me faz querer te ter. E te ter, eu não posso.

Não existe uma saída e eu preciso achar conforto nessa bagunça.

(Estela Seccatto)

Grande Edgar!

Já deve ter acontecido com você.

- Não está se lembrando de mim?

Você não está se lembrando dele. Procura, freneticamente, em todas as fichas armazenadas na memória o rosto dele e o nome correspondente, e não encontra. E não há tempo para procurar no arquivo desativado. Ele está ali, na sua frente, sorrindo, os olhos iluminados, antecipando a sua resposta. Lembra ou não lembra?
Neste ponto, você tem uma escolha. Há três caminhos a seguir.

Um, o curto, grosso e sincero.

- Não.

Você não está se lembrando dele e não tem por que esconder isso. O “Não” seco pode até insinuar uma reprimenda à pergunta. Não se faz uma pergunta assim, potencialmente embaraçosa, a ninguém, meu caro. Pelo menos não entre pessoas educadas. Você devia ter vergonha. Não me lembro de você e mesmo que lembrasse não diria. Passe bem.

Outro caminho, menos honesto mas igualmente razoável, é o da dissimulação.

- Não me diga. Você é o... o...

“Não me diga”, no caso, quer dizer “Me diga, me diga”. Você conta com a piedade dele e sabe que cedo ou tarde ele se identificará, para acabar com a sua agonia. Ou você pode dizer algo como:

- Desculpe deve ser a velhice, mas...

Este também é um apelo à piedade. Significa “Não torture um pobre desmemoriado, diga logo quem você é!” É uma maneira simpática de dizer que você não tem a menor idéia de quem ele é, mas que isso não se deve à insignificância dele e sim a uma deficiência de neurônios sua.

E há o terceiro caminho. O menos racional e recomendável. O que leva à tragédia e à ruína. E o que, naturalmente, você escolhe.

- Claro que estou me lembrando de você!

Você não quer magoá-lo, é isso. Há provas estatísticas que o desejo de não magoar os outros está na origem da maioria dos desastres sociais, mas você não quer que ele pense que passou pela sua vida sem deixar um vestígio sequer. E, mesmo, depois de dizer a frase não há como recuar. Você pulou no abismo. Seja o que Deus quiser. Você ainda arremata:

- Há quanto tempo!

Agora tudo dependerá da reação dele. Se for um calhorda, ele o desafiará.

- Então me diga quem eu sou.

Neste caso você não tem outra saída senão simular um ataque cardíaco e esperar, falsamente desacordado, que a ambulância venha salvá-lo. Mas ele pode ser misericordioso e dizer apenas:

- Pois é.

Ou:

- Bota tempo nisso.

Você ganhou tempo para pesquisar melhor a memória. Quem é esse cara, meu Deus? Enquanto resgata caixotes com fichas antigas do meio da poeira e das teias de aranha do fundo do cérebro, o mantém à distância com frases neutras como “jabs” verbais.

- Como cê tem passado?
- Bem, bem.
- Parece mentira.
- Puxa.

(Um colega da escola. Do serviço militar. Será um parente? Quem é esse cara, meu Deus?)

Ele está falando:

- Pensei que você não fosse me reconhecer...
- O que é isso?!
- Não, porque a gente às vezes se decepciona com as pessoas.
- E eu ia esquecer você? Logo você?
- As pessoas mudam. Sei lá.
- Que idéia!

(É o Ademar! Não, o Ademar já morreu. Você foi ao enterro dele. O... o... como era o nome dele? Tinha uma perna mecânica. Rezende! Mas como saber se ele tem uma perna mecânica? Você pode chutá-lo, amigavelmente. E se chutar a perna boa? Chuta as duas. “Que bom encontrar você!” e paf, chuta uma perna. “Que saudade!” e paf, chuta a outra. Quem é esse cara?)

- É incrível como a gente perde contato.
- É mesmo.

Uma tentativa. É um lance arriscado, mas nesses momentos deve-se ser audacioso.

- Cê tem visto alguém da velha turma?
- Só o Pontes.
- Velho Pontes!

(Pontes. Você conhece algum Pontes? Pelo menos agora tem um nome com o qual trabalhar. Uma segunda ficha para localizar no sótão. Pontes, Pontes...)

- Lembra do Croarê?
- Claro!
- Esse eu também encontro, às vezes, no tiro ao alvo.
- Velho Croarê!

(Croarê. Tiro ao alvo. Você não conhece nenhum Croarê e nunca fez tiro ao alvo. É inútil. As pistas não estão ajudando. Você decide esquecer toda a cautela e partir para um lance decisivo. Um lance de desespero. O último, antes de apelar para o enfarte.)

- Rezende...
- Quem?

Não é ele. Pelo menos isso está esclarecido.

- Não tinha um Rezende na turma?
- Não me lembro.
- Devo estar confundindo.

Silêncio. Você sente que está prestes a ser desmascarado.

- Sabe que a Ritinha casou?
- Não!
- Casou.
- Com quem?
- Acho que você não conheceu. O Bituca.

Você abandonou todos os escrúpulos. Ao diabo com a cautela. Já que o vexame é inevitável, que ele seja total, arrasador. Você está tomado por uma espécie de euforia terminal. De delírio do abismo. Como que não conhece o Bituca?

- Claro que conheci! Velho Bituca...
- Pois casaram...

É a sua chance. É a saída. Você passa ao ataque.

- E não me avisaram nada?!
- Bem...
- Não. Espera um pouquinho. Todas essas coisas acontecendo, a Ritinha casando com o Bituca, o Croarê dando tiro, e ninguém me avisa nada?!
- É que a gente perdeu contato e...
- Mas o meu nome está na lista, meu querido. Era só dar um telefonema. Mandar um convite.
- É...
- E você ainda achava que eu não ia reconhecer você. Vocês é que esqueceram de mim!
- Desculpe, Edgar. É que...
- Não desculpo não. Você tem razão. As pessoas mudam...

(Edgar. Ele chamou você de Edgar. Você não se chama Edgar. Ele confundiu você com outro. Ele também não tem a mínima idéia de quem você é. O melhor é acabar logo com isso. Aproveitar que ele está na defensiva. Olhar o relógio e fazer cara de “Já?!”)

- Tenho que ir. Olha, foi bom ver você, viu?
- Certo, Edgar. E desculpe, hein?
- O que é isso? Precisamos nos ver mais seguido.
- Isso.
- Reunir a velha turma.
- Certo.
- E olha, quando falar com a Ritinha e o Mutuca...
- Bituca.
- E o Bituca, diz que eu mandei um beijo. Tchau, hein?
- Tchau, Edgar!

Ao se afastar, você ainda ouve, satisfeito, ele dizer “Grande Edgar”. Mas jura que é a última vez que fará isso. Na próxima vez que alguém lhe perguntar “Você está me reconhecendo?” não dirá nem não. Sairá correndo.

(Luís Fernando Veríssimo)

Complemento.

Eu entendi que eu não preciso de ninguém pra ser feliz.

É, eu demorei mas aprendi que devo ser completamente feliz comigo mesma. Se vier, no futuro, algo a mais pra me deixar MAIS feliz, eu agradeço. Mas esse 'algo' não é necessário. O problema é esse. Ultimamente eu estou querendo muito algo a mais. Talvez porque eu perdi um pedaço de mim e preciso de algo que me preencha.. Ou porque a rotina vem me atacando. Me esconder atrás de álcool não está mais funcionando. Quer dizer, me distrai, me tira as preocupações, me deixa dormir sem pensar. Mas eu acordo e é sempre a mesma coisa. Não estou triste. Eu sou uma pessoa feliz e não tenho muito do que reclamar. Mas estou querendo colo, abraço, alguém cuidando de mim ou alguém pra eu cuidar. Não necessariamente alguém. Algo. Pode ser alguém, pode ser um animalzinho de estimação, pode ser um passatempo que me divirta. Tanto faz, eu só quero que esse vazio vá embora porque ele dá ênfase à minha dor.

(Estela Seccatto)