10 de novembro de 2009

"Mas há uma hora em que os bares se fecham"

E para onde você vai, marido solitário, que não tem pra onde ir? Ir pra casa e ver a vida que construiu? Ver as marcas do seu passado, ver um sonho não realizado, ver seus filhos não mais tão pequenos agora? Mas você sabe que ninguém está em casa porque seus filhos cresceram até demais. Você vê como eles se afastaram? E sua mulher, por onde anda, marido solitário? Me desculpe a pergunta, mas você não levará uma flor para ela? Não chore, homem. Ela está olhando por você, só não pode te abraçar. Peça sua ultima dose, dê o seu olhar sincero de quem quer sorrir mas não consegue.. Os outros homens solitários vão te entender, eles não vão te julgar. Caminhe bem devagar até sua casa, ou rápido, não faz diferença. Você perderá seu tempo na rua e perderá seu tempo em casa. Chegue devagar. Você sabe que toda vez que vira a chave na porta existe uma esperança de ver ela ali, dizendo 'a janta está pronta, ponha uma roupa mais confortável'. Então coloque um pé pra dentro e sinta que não há vida por ali. Empurre sua alma até o velho quarto -onde tudo te lembra a antiga familia. Pegue aquela velha caixa empoeirada e a abra para se lembrar onde toda a vida ficou. São fotos, muitas fotos. Seus pais estão te olhando, sua mulher está sorrindo pra você.. Seus filhos, tão pequenos, te abraçam forte. O primeiro aniversário.. O segundo.. O terceiro.. Feche a caixa, aquilo é só passado. Acomode-se na cama sem ao menos se trocar. Não existe uma pessoa pra te dizer 'ponha uma roupa mais confortável'. Durma - é o melhor a se fazer. Sonhe com tudo o que tiver direito, e se puder.. não acorde. Não faz mais nenhum sentido ficar aqui quando se sabe que os bares fecham uma hora.
(Estela Seccatto)

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