Minha orquestra é ruído pro seu violão. Pra sua voz de tecido meu ouvido é rebelião. Sou trovão no chuvisco, sou o grito do pulmão. Ansiedade e paciência, eu sou contradição. Sou a dor da garganta antes do choro, sou o medo da veia antes do soro, sou quem desafina no meio do coro, sou o eco do tiro no meio do morro e corro! Sou fogo, sou fumaça, sou tosse. Sou minha dona e sou minha posse. Zona, caos, bandeira branca. Sou fim de guerra, perna manca, chave que não gira a tranca. Sou cela de cadeia, leite, mel e aveia. Montanha-russa. A bala da roleta-russa. O dedo que puxa o gatilho, a cara que leva o tiro e a angústia de quem viu e não fez nada. O primeiro gole na cerveja gelada, sou a alma pelada e a pele lavada. Sou a rifa premiada. Piada. Sem graça. Sou caça e sou leão. Minha desgraça e meu perdão. Apêndice e coração. Meu sangue é frio na palma da mão. Meu silêncio se faz grito na respiração. Minha orquestra é ruído pro seu violão
(Estela Seccatto)
(Estela Seccatto)
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