15 de novembro de 2011

Seu rosto me assombra.

Ela caminha delicadamente deixando o mundo inteiro pra trás. Está escuro, frio e garoando. Ela não liga, ela apenas segue. Parece que lágrimas a fazem esquecer a realidade. O capuz da blusa cobre seu cabelo loiro e sujo. As mãos no bolso e a calça jeans desbotada. Ela chega à uma praça e se acomoda em um canto onde o vento e a garoa não alcançam. Tira o maço do bolso e acende um cigarro. Observa o caminho lento da fumaça saindo de sua boca. As lágrimas secam no ritmo em que o cigarro queima. Ali, bem distante, há uma sombra, uma pessoa. "Por que você estragou a minha vida? Por que você não me deixa em paz? Seu rosto e sua voz me assombram todos os dias! Por que eu não consigo ter uma vida normal depois de ter te conhecido?". A voz grita mas o som que chega é baixo. "Você é um lixo, você é insensível, você nunca me amou!". A menina dá outro trago e não se move. A impressão é de que até seu coração estava parado. Não piscava, só respirava lentamente como se não houvesse solução. "Vem até aqui, cospe na minha cara o quanto você me odeia, vem ver minha dor de perto!". Ela se levanta, e começa a caminhar até aquela sombra. Na medida do passo com o qual se aproxima, o rosto começa a criar forma e a se revelar. O cigarro cai de sua mão. Ela já sabia quem era e não conseguia acreditar. A dor era tanta que os passos começaram a pesar. Parou metros de distância e ficou a observar. Respirou fundo e deu mais um passo. "Me esquece". A imagem se desfez diante de seus olhos. Assustada ela se vira e ali está, a 10 centímetros do seu rosto aquela pessoa que tanto a assombrara. Se assusta e se afasta - sempre a mesma reação. "Eu não vou voltar" - sempre as mesmas palavras. Abre os olhos, tudo escuro. Abraça o travesseiro e implora pra dormir em paz.

(Estela Seccatto)

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