O vento toca a folha da árvore e o sol desenha sombras nos muros lá de fora. Aqui existe a imperfeição de um quarto adolescente no qual eu me acomodo. Aqui eu existo, eu crio minha angústia, eu curo minha dor. A luz se mantém apagada e o vidro da sacada não abrirá. Não quero sentir o vento, sei que ele está ali apenas pelo movimento das coisas leves lá de fora. Sei sua intensidade pelo olhar. O silêncio da rua se quebra no passar de um carro solitário. Segunda-feira: sempre igual. A posição incomoda e faz minha perna adormecer, o caneco onde havia chá está na cama há um bom tempo, as roupas estão espalhadas, perdidas em algum canto junto com a vontade de arrumá-las. O caderno está em ordem, no lugar exato pra se eu quiser escrever. A saudade está em mim e acumula. Saudades de quem não volta mais, saudades de quem foi por opção, saudades de quem eu deixei escapar em vão. E saudade corrói, forma um buraco, um vazio. E esse vazio se esconde perto de qualquer outro alguém. Aprendi a sorrir sem vontade mas sem falsidade, só pro dia melhorar. Quem sou eu pra gritar pro mundo meus textos, meus erros e minhas dores? Quem sou eu pra gritar sentimentos por aí? Eu sou só uma menina que bebe e fuma numa calçada qualquer.. Ligeiramente estúpida e insensível nos meus atos.
(Estela Seccatto)
Nenhum comentário:
Postar um comentário