Fazia tempo que eu não escrevia aqui porque isso só acontece quando a angústia não cabe em lugar nenhum. Quando não cabe em conversas, nem choros, nem meditações.
Tá doendo a algum tempo essa soma de coisas que viram coisa grande dentro de mim. Viver uma pandemia não seria fácil, alguém já disse isso em algum lugar. Mas junto à ela a vida continua, não é como se ela fosse nos dar descanso só porque estamos vivendo uma pandemia.
Família.
Minha família parece um campo minado e eu me sinto cada vez mais distante pra não pisar em falso. Tive que ouvir que sou um monstro e que devo poupar minha mãe de ter uma filha como eu. Ouvi isso do filho da minha segunda mãe: minha tia, a mulher que eu entreguei minha vida inteira e todo meu amor. Também tive que ver a filha dela chacotear a sexualidade do meu irmão. Mas é aquela coisa, né? Enquanto gays, já esperamos homofobia dos outros.
Não bastando, a desonestidade veio em forma de dinheiro também. Meu tio tá correndo o risco de perder a casa e o carro, que é o instrumento de trabalho dele. Tudo por conta de desonestidade do meu primo. Daí gente tem que ouvir que devemos amar e perdoar a família. Bla bla bla.
Trabalho.
Em outro aspecto da minha vida, o motivo desse cuspe nesse blog: meu trabalho. O desânimo, a revolta, a falta de perspectiva. O que fez meu copo transbordar. Quando é que eu vou viver sem ter que me preocupar todos os dias com dinheiro? Quando é que eu vou poder proporcionar algo pros meus pais? As vezes eu sonho com o dia em que eu vou oferecer aos meus pais uma viagem pra Itália. É o sonho da minha mãe. E meu pai, enquanto assiste tv, comenta "será que eu nunca vou ver neve?". Meu pai pega o notebook todos os dias e fica passeando no street view. E quando é que eu vou ter condições pra isso? Porque, no momento, eu sinto que eu nunca tive reconhecimento algum. Será que eu sou tão ruim ou insuficiente assim?
Eu.
Com minha síndrome do ovário policistico eu fiquei bem calva. Minha autoestima tá numa dose bem baixa. Eu tenho vergonha de me olhar no espelho. Que bom que na pandemia eu não vejo ninguém. As vezes é melhor estar sozinha.
Fazia tempo que meu olho não ardia de tanto chorar.
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