Tenho um buraco no meu peito que às vezes se enche de cerveja.
Um copo na mesa, nenhum a mais.
Às vezes queria estar sentada ou dormindo no banco de trás.
Seria sinal de gente no banco da frente.
O som do violão não chega aqui nesse lugar,
nem o cheiro da comida quente pra me esquentar.
Tenho um buraco no meu peito que às vezes se enche de fumaça.
A mesma que se desfaz no ar da praça
e nas ruas e nas calçadas
e às vezes nem tem graça.
Às vezes essa mistura no meu peito pesa e vira sinusite
consequência de um buraco sem hora pra fechar.
Daí o peito pesa, a cabeça pesa, o olho pesa
e a gente nem reza porque nem sabe rezar.
Mais fácil deixar pra lá.
O travesseiro afunda, o coração inunda
mas não chega a afogar.
A vida me ensinou a nadar,
eu só não sei boiar.
E às vezes, bem às vezes, nas esquinas e nas mesas de alguns bares
essa gente desses lugares vêm me acompanhar.
E a conversa me preenche, as vezes enche,
chega até a transbordar.
Mais cerveja, mais gente na mesa e mais vontade de ficar.
Voltar pra casa não dá,
ela fica em outro lugar.
(Estela Seccatto)