O menino estava triste, a situação era triste. A menina sorria como se não se importasse.
-Me diz: quão insensível você é?
-Cabe em mim todos os sentimentos. - Continuava a sorrir.
-Então porque não chora? Porque sorri nessa situação?
-Feche os olhos. - Ela pediu e ele o fez. - Minhas palavras entram em você te angustiando e te travando um nó na garganta. A dor é física, o coração desespera, o ar pesa sobre seu ombros. O mundo não existe mais. Na sua cabeça só há pensamento sobre o que tanto te incomoda. Só imagens ruins, apenas essa desagradável situação rodando repetitivamente em sua mente como se não existisse nada além disso. Nada bom, o mundo caído, derrubado nos teus pés. Você guarda um grito, você retém lágrimas, há em ti uma agonia que não deixa o ar entrar. Inspirar dói, soltar o ar dói. O peito machuca, a dor não alivia. Então me responda: se respirar dói, qual é a solução? É preciso parar de respirar? Até quando vai doer?
Ele sorriu. Tudo estava bem.
(Estela Seccatto)