5 de abril de 2010

Outra pessoa.


Olhando fixamente para outra pessoa, a menina pensava: "O que será que aconteceu? Porque será que ela chora tanto?" ..E ficava planejando uma forma de abordar a menina triste. Queria encontrar um modo sutil de oferecer ajuda sem demonstrar pena. Ela não estava com pena, ela só não gostava de ver tanta dor. Mas, cada uma de um lado do edifício, separadas por um vidro, não podiam ao menos se ouvir. E as pessoas encaravam a menina estranhamente, dificultando mais ainda todos aqueles pensamentos. "Eu preciso chegar até ela, ninguém me entende."..E as crianças fitavam a menina curiosa e sussurravam para os pais alguma dúvida inquieta. E os senhores de idade olhavam preocupados e tentavam disfarçar. As mentes mais cruéis mexiam a boca claramente: "deve ser louca". Será que só ela se importava com a menina que chorava? As pessoas estavam mais preocupadas com uma menina curiosa do que com uma menina que esbanjava dor em lágrimas? Aquela menina lá fora precisava de alguém para abraçá-la, precisava de um amigo. E a menina curiosa do outro lado se perguntava: "onde estão seus amigos?". E a cada pessoa que passava direto por ela apenas mostrava não haver resposta. Como era possível uma menina tão sozinha aquela hora na rua.. naquele frio? Como era possível ninguém notá-la ali? Apenas a menina de dentro do edifício a tinha percebido? Esse mundo está regredindo, não existe uma evolução visível. Um homem saiu do elevador, distraindo os pensamentos da menina curiosa. Deu boa noite e abriu a porta de vidro, colocando o pé pra fora dali. A menina que chorava não estava mais ali. Como ela poderia ter ido embora tão rápido? A porta então fechou na lentidão natural e a menina voltou, juntamente com sua dor e solidão.

Era seu reflexo que tanto chorava.

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