27 de novembro de 2009

Alguém, por favor, me dê palavras de amor.

Pedi palavras.. me disseram: amor, vida e morte.
Mas a ordem estaria certa? Não seria: vida, amor e morte? Ou seria tudo junto, uma coisa só? Viver amando, morrer amando.. Vai dizer que você não ama? Não precisa ser uma pessoa, pode ser um objeto. Você ama em segredo aquele ursinho de pelúcia velho e sem um olho, você ama aquela musica da sua infância (você ama sua infância inteira), você ama seu animal de estimação, você ama um poster, um artista. É uma história o que se segue:
Meu nome não importa agora, vou contar porque essas lágrimas escorrem sem pausa. Já na juventude guardava muitas frustações. Amor? Simplesmente não existia. Ninguém era capaz de amar. Amor de filmes era pura besteira. Pra que os filmes? Fantasia. Mas no fundo eu implorava de joelhos: 'alguém, por favor, me dê palavras de amor'. E não obtinha, meu grito deveria ser mais alto. Mas eu não tinha forças. Então, numa ironia discreta, trombei em alguém que no futuro chamaria de 'amor de minha vida'. Percebi depois de uns dias que tinha sido exatamente igual nos filmes. Mantivemos contato, começamos uma história. Sempre com o famoso 'primeiro beijo'.. cheio de medo. Consegui mostrar o que tinha em mim cada dia um pouco mais. E finalmente puderam ouvir e me atender.. 'alguém, por favor, me dê palavras de amor'. Então ganhei palavras, ganhei gestos, ganhei abraços.. Ganhei carinho e ganhei vida. Mal sabia que antes eu não vivia. Ganhei um adeus de meu pessimismo e ganhei meu otimismo, sempre bem-vindo. Foram anos e mais anos de tudo o que eu assistia nos filmes. Mas era real, era tudo real. Pra que os filmes? Pra encenar a realidade. Sorria pro motorista de ônibus, pro padeiro e pro entregador de água. Era evidente minha felicidade. Mas tudo isso acabou. Uma doença levou o meu amor.. o meu amor dos filmes, o meu amor das praças, o meu amor dos sonhos.. Aquele amor da vida inteira, entende? Levaram meu 'pra sempre' que demorei pra conquistar. Então o pessimismo voltou e a única conclusão que cheguei foi: pedi palavras.. recebi amor, vida e morte (nunca nessa ordem).

(Estela Seccatto)

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