Se o mundo pudesse falar, sobre mim ele não diria nada. Que eu ando calma e quieta e assim acabo passando despercebida. Como se eu quase não existisse, se não fosse pelo barulho que eu faço quando esbarro em algum canto. Ele não diria nada sobre mim porque o diálogo acabaria ali, logo quando terminasse de dizer. Que apesar do meu coração acelerado e minha mente ansiosa, minha fala é preguiçosa. Meu olhar já é de sono há uns dias sem pausa. E meu peito tem sido de choro sem causa. O mundo, se pudesse dizer, falaria das árvores, das brisas, das avenidas e dos sons. Falaria do vento e de alguns momentos bons. Nem citaria meu nome, nem deve lembrar de mim. Que eu me guardo nessas paredes desse quarto e nem me atrevo a olhar pra fora. Porque, se eu olho, minha mente pode me levar. E, numa próxima, eu já não sei se vou saber voltar. É por isso que eu não me meto mais com o mundo e ele, se soubesse falar, não falaria de mim. Que dessa forma a gente se abstém de uma conversa vaga que nunca, em 28 anos, se fez necessária. E é de grande elegância que continue assim.
12/04/2021